Era mais um dia de palestras, conversas intermináveis com
catedráticos, pessoas que ele simplesmente não suportava dividir o espaço. Não
o entendiam, diziam ser não literal, literário demais, já ouvira pelos
corredores, entre cochichos e sussurros que os tachava louco. Louco? Louco eram
os que não conseguiam enxergar a verdadeira loucura na sociedade.
Não entendem a ironia da vida. Não entenderão nunca a ironia
do texto. Vivia repetindo para si mesmo, a cada nova crítica ao seu estilo
peculiar. Achava-se velho demais para aquilo, era novo demais para aquilo. Não
entendiam. E aquilo o cansava. O abatia. Apesar de nunca esmorecer.
As palestras eram péssimas. E piores eram os coquetéis.
Conversas. Risadas. Bebidas sem limites e ninguém ali entendia o que queria
dizer. O homem deveria ser superado. Cansado. Aquilo o matava aos poucos.
Malditos!
Eles não entendem. Confundem. Mudam o sentido. Roubam dele o
que não há e querem me culpar por teoricamente ter fundado o mundo em que se
afundam. Malditos! O homem precisa ser superado. Malditos!
Olhando o jardim, pela janela do grande salão, sozinho com
seus pensamentos, sentiu uma comichão a crescer-lhe entre as pernas. Malditos!
Roçou as pernas umas nas outras. Nada. O incômodo tomando proporções
desesperadoras. Tentou as mãos. Por cima da calça o alívio mal foi sentido. E
passou a se tornar intensamente incômodo. Não resistindo, encostou-se atrás de
uma pilastra, entre plantas e meteu a mão dentro da roupa.
Coçou o saco até aliviar-se inteiramente. Disfarçadamente,
observando os que estavam ao redor, levou os dedos até o nariz e cheirou.
Niezstche ficou o resto da noite com o bigode cheirando a
saco.
26 de maio de 2017
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