quinta-feira, 1 de junho de 2017

Bigode

Era mais um dia de palestras, conversas intermináveis com catedráticos, pessoas que ele simplesmente não suportava dividir o espaço. Não o entendiam, diziam ser não literal, literário demais, já ouvira pelos corredores, entre cochichos e sussurros que os tachava louco. Louco? Louco eram os que não conseguiam enxergar a verdadeira loucura na sociedade.

Não entendem a ironia da vida. Não entenderão nunca a ironia do texto. Vivia repetindo para si mesmo, a cada nova crítica ao seu estilo peculiar. Achava-se velho demais para aquilo, era novo demais para aquilo. Não entendiam. E aquilo o cansava. O abatia. Apesar de nunca esmorecer.

As palestras eram péssimas. E piores eram os coquetéis. Conversas. Risadas. Bebidas sem limites e ninguém ali entendia o que queria dizer. O homem deveria ser superado. Cansado. Aquilo o matava aos poucos. Malditos!

Eles não entendem. Confundem. Mudam o sentido. Roubam dele o que não há e querem me culpar por teoricamente ter fundado o mundo em que se afundam. Malditos! O homem precisa ser superado. Malditos!
Olhando o jardim, pela janela do grande salão, sozinho com seus pensamentos, sentiu uma comichão a crescer-lhe entre as pernas. Malditos! Roçou as pernas umas nas outras. Nada. O incômodo tomando proporções desesperadoras. Tentou as mãos. Por cima da calça o alívio mal foi sentido. E passou a se tornar intensamente incômodo. Não resistindo, encostou-se atrás de uma pilastra, entre plantas e meteu a mão dentro da roupa.

Coçou o saco até aliviar-se inteiramente. Disfarçadamente, observando os que estavam ao redor, levou os dedos até o nariz e cheirou.

Niezstche ficou o resto da noite com o bigode cheirando a saco.

26 de maio de 2017

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