quinta-feira, 31 de maio de 2018

Carta poema (porque era o nome do arquivo)

"Na cama, na hora do sono,
todo pensamente vem pra te despertar"


Acabou a cerveja.
Felicidade líquida, efêmera. Desce pela goela. Cai no bucho, é mijada. Fim do ciclo? Não. Deixa o capeta percorrendo no corpo. Marvada.
Beber sozinho, eis o meu dilema.
Morrer sozinho, eis o nosso destino.
Os olhos cansados, com o corpo.
A alma desperta, com a pena.
(porque é mais bonito falar pena
ao invés de assumir que tudo não passa de uma tela em branco
em um computador qualquer, de teclado carcomido e sujo)
Lágrimas de travesseiro.
Tanto se perde, pouco se conquista.
Vida.
Pouco vivida.
Pouco por viver (nunca se sabe, melhor não arriscar).
Triste fim. Triste começo.
Meio que não acaba mais,
até terminar pra sempre.
Mundo que não muda.
Humano que piora.
Acaba logo
e nos livre de tanta estupidez,
nos liberte de tanta dor.
Acabou a cerveja
e a vontade de buscar mais morreu com o último gole,
horas atrás.
Melhor deitar.
Melhor tentar sonhar,
pois viver tá foda,
morrer só mais depois.
Venha pra cama.


10 de janeiro de 2014
26 de maio de 2018

segunda-feira, 28 de maio de 2018

O menino Brasil

Brasil era um menino de classe média, morador de uma cidade qualquer em um país dos trópicos.

O pai de Brasil trabalhava em uma fábrica de miniaturas de caminhões. Brasil, que adorava caminhões, passou a ganhar diversos modelos das miniaturas feitas pelo pai na fábrica. A frota foi crescendo e, em pouco tempo, Brasil tinha dezenas e dezenas de pequenos caminhões. E fazia tudo com seus 'truckzinhos'.

Um dia, na escola de Brasil, a professora de geografia organizou a Feira de Modais. Brasil ficou feliz em poder mostrar seus caminhões. A professora, no entanto, advertiu que seria bom se aparecessem com outros modelos. Brasil então pensou 'vou pedir um trenzinho para mamãe'.

Chegando em casa, Brasil contou sobre a feira para sua mãezinha e pediu o trenzinho. Sua mãe enfurecida disse que ele não tinha o direito de pedir mais nada, que ele já tinha caminhões suficientes e que a família não tinha dinheiro para comprar outros veículos, só para uma Feira da escola. 'Mas os outros meninos vão levar barcos, aviões, eu quero um trenzinho, mamãe'. 'Você não é os outros, Brasil'.

No dia da Feira, Brasil apareceu com suas dezenas e dezenas de caminhões, que ficaram emperrados nas poucas vias que a escola havia construído. Os outros meninos riam e se divertiam com seus barquinhos, aviões, trens.

Brasil realmente não era os outros. Ficou triste, parado num canto, com seus caminhões.

26 de maio de 2018

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Andei pensando em morrer mais do que gostaria de admitir

A página em branco, de certo modo, reflete o que se passa aqui dentro, onde as ideias são criadas, onde a vida se desenrola. Nada. Nem um sopro de inspiração. Nem uma minguada frase para o desenvolvimento posterior. Nada.

Dizem que depois da tempestade vem a calmaria. No meu caso, em momentos como este, penso que a minha tempestade veio seguida de um desastre nuclear. Uma Fukushima que não encontra seu caminho de recuperação. Nada.

Área arrasada. Nada.

Mas mesmo em meio ao nada, algo pode surgir. E surgiu. É a alegria única. A força motriz que impede que o organismo pare. O ar que não me deixa morrer asfixiado. O motivo do sorriso perdido em meio a um oceano de tristeza. Por ela apenas, praticamente, é que a vontade não se torna negativa. Por ela apenas, praticamente, é que ainda penso em prosseguir.

Mas é cada dia mais difícil. Falta-me força. Falta-me vontade. Sobra-me desmotivos. È como se eu caminhasse olhando aos céus, procurando alcançar aquele ponto luminoso que tenho como a saída do poço em que caí. No entanto, a cada passo, olhos voltados para a luz, a luz parece ficar mais e mais distante. Eu ando pra trás. Eu deixo-me ir.

O tempo passa sem me dar pela passagem. Não sei que dia é hoje. Não sei o que fiz ontem. Não posso dizer quanto tempo estou assim. Parece que ontem foi o que tudo foi nos últimos anos, e o dia de hoje é um eterno não chegar de amanhã. Eu tento me convencer de que posso mudar, de que posso sair daqui. E vou deixando de tentar, convencendo-me que talvez eu não tenha mais forças. Pior, talvez eu não queira mais sequer tentar.

Os que me estão próximos são como âncoras me puxando ao fundo. Dizem o que eu sei em cansaço. Repetem a mesma ladainha, como se pela repetição o milagre ocorresse. A droga que não funciona para combater determinada doença não a combaterá pela repetição da dose. Por mais antibióticos que se tome, a infecção viral não vai se curar. Não pelo remédio, ao menos.

Isso sem falar nos elogios vazios, nas qualificações sem base. Só faz piorar. Só faz parecer que o gênio que tanto propagam é, em verdade, um fracote que deita e chora em posição fetal diante dos problemas reais da vida. E repetem. E repetem. E tornam a repetir. Como marteladas que se dá em cabeça de prego já totalmente fincado na madeira mole.

O choro já nem me vem. Engasgo-me, chego a quase sentir ânsia. Não por não querer chorar. Quiçá por querer demasiado.

Mais de semana sem conseguir sentar e escrever algo que me dê prazer.
Falta-me a inspiração.
Falta-me a vontade.
Chego mesmo a pensar que falta-me o álcool.

O que não me falta é essa vontade de querer abandonar tudo e deixar com que o mundo siga sem mim.

E mesmo nisso, falta um pouco de vontade para completar a vontade total.

Para quem perguntar, eu vou continuar afirmando que estou bem e manterei o bom humor forçado de sempre.

Talvez hoje eu chore, enfim.


24 de maio de 2018

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Estatuto do Desarmamento

Na sala da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, um debate acalorado acerca da flexibilização do Estatuto do Desarmamento. De um lado, a bancada da bala defendendo o fim da proibição extensiva da venda e porte de armas de fogo, de outro lado, os opositores defendendo a tese de que mais armas apenas aumentaria a violência, com mortes fúteis podendo ocorrer, por exemplo, por causa de uma discordância no trânsito.

O Senador Capitão Treisoutão pede a palavra e após um discurso efusivo finaliza:

- As armas são apenas instrumentos e, nas mãos do cidadão de bem, cumprirão  a sua função, que é a de garantir a segurança da família brasileira. Portanto, nobres colegas senadores, como vimos, não são as armas que matam, são as pessoas.

Vaiais misturadas a palmas e urros.

Finda a discussão, passou-se à votação.

Por maioria esmagadora o projeto foi alterado, aprovado e encaminhado para o plenário. Em seu artigo primeiro fez-se constar:

"Art. 1º - Fica terminantemente proibido o porte de pessoas por qualquer arma de fogo no território brasileiro, nos moldes desta Lei, que passa a vigorar a partir da sua aprovação."

As armas protestaram.


03 de maio de 2018