segunda-feira, 31 de julho de 2017

Nacionalismo x Meio Ambiente

Entrando no banho, ligo o chuveiro, rádio ligado, transmissão esportiva, hino nacional iniciado.

Mando às favas, temporariamente, o nacionalismo e desligo o chuveiro, antes de me posicionar para o restante da execução do hino.

O Brasil pode acabar. A água não.


15 de julho de 2017

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Fetiche

Tinha um fetiche bastante peculiar e específico. Ficava excitado com pés de mulheres sentinelesas, entre 16 e 24 anos, com o dedinho levemente curvado para dentro e unha quase inexistente. Havia visto uma fotografia lá por 1999, numa revista, antes de entrar para extrair um ciso.

Nunca mais viu a fotografia.

Nunca mais viu o pé.

Tentou improvisar com a foto de um pé de uma mulher na mesma faixa etária de uma tribo isolada da Amazônia. Não deu. Talvez faltasse o dedinho levemente curvado para dentro. Talvez a unha estivesse além do tamanho desejado.

Morreu sem ter um único orgasmo pleno.


15 de julho de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Ah se os homens soubessem

Se soubessem apreciar as expressões;
Se soubessem se deleitar com os tremores;
Se soubessem se agraciar com os gemidos;
Se soubessem contemplar o aparente desespero;
Se soubessem respeitar o tempo necessário;
Se soubessem admirar o quase ataque epilético;
Se soubessem sentir prazer no prazer
Talvez aí os homens  entendessem
o tesão que existe no orgasmo de uma mulher.

Não só para ela,
mas para quem assiste e compartilha a sua chegada.

13 de julho de 2017

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Crime no posto de gasolina

Canal no Telegram: t.me/psicopatia

Chegou de surpresa, sacou a arma
um tiro, dois tiros e correu.
Fugiu.
A vítima caída ao chão
agonizava o tiro na cabeça
perdendo a vida pouco a pouco
enquanto a multidão
de celulares em mãos
filmava tudo
para compartilhar
nas redes sociais.

Ninguém consultou a família
a respeito do fato.

13 de julho de 2017

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O presidente de um país longínquo

Canal do blog no Telegram: t.me/psicopatia

Era uma vez, um presidente, de um país longínquo, isolado nos confins do Universo, o que fazia o presidente se parecer muito com o país que governava, já que se encontrava bastante isolado no mundo político.

Esse presidente, certa vez, recebeu o que ele passou a chamar de bandido, crápula da pior espécie, em sua residência oficial, para uma conversa de amigos (mas o crápula não era amigo). O crápula provou não ser, de fato, muito amigo, já que confessou uma série de crimes ao presidente, que concordou com tudo, mas, não sabia que estava sendo gravado. Pobre presidente. O Ministério Público daquele país longínquo, empenhado num jogo de caçar corruptos que já tinha mais de 40 fases, com vários chefões, viu no ato do presidente, de receber o crápula e concordar com os ditados crimes, um ato criminoso e usou a gravação como prova para pedir abertura de inquérito contra o presidente.

A defesa do presidente (quem pagou? Quem pagou?) alegou que a gravação não servia como prova, que teria sido editada. Assim, a gravação, por ordem do grau máximo do judiciário do país longínquo, solicitou perícia junto ao órgão mais qualificado da região do país longínquo, que era, justamente, um instituto de criminalística da polícia investigadora de políticos do distante país.

Ao ter concluído que a gravação não havia sido editada, podendo sim servir de prova contra o presidente do país longínquo, a polícia investigadora de políticos passou a ser alvo do presidente isolado. Sua defesa desmereceu por completo a perícia, desmereceu o órgão, desmereceu, em suma, um dos mais importantes institutos de criminalística da região, utilizado para investigações de diversos países vizinhos. Assim, o chefe do país longínquo, para se manter no poder, se agarrar às tetas governamentais e dar continuidade aos agrados de seus partidários e cúmplices, achou melhor denegrir a imagem do instituto, colocando em xeque todos as perícias e casos investigados por aquele órgão.

O presidente do país longínquo quer se manter presidente, a qualquer custo, mesmo que precise sacrificar a imagem de respeitado órgão.

Ainda bem que o país é longínquo e essa história não passa de ficção. Vai que tentam ver se isso dá certo por aqui.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

PhD #3: Serviço Público

Não se esqueçam que o blog está no Telegram: t.me/psicopatia

Quando o assunto “concurso público” é citado, o que vem à sua mente? Afora a acirrada disputa e as dificuldades em ser aprovado, fatalmente termos como salário, estabilidade, aposentadoria diferenciada certamente permearão o imaginário do incauto leitor, não? Pois é. Isso é o que pensa a imensa massa de concurseiros no país. Mas, e a vontade de bem atender? O desejo de servir? Onde fica? É o que vamos debater hoje no seu, no meu, no meu mesmo, Pitaco de hermenêutica Duvidosa número 3! Vem comigo!

O SERVIDOR PÚBLICO

Antes de adentrarmos a discussão vagueante, importante estabelecer o conceito de servidor público que utilizaremos aqui.

Vale conceituar o termo.

São servidores públicos, "as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às Entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos".1

Dentro da categoria, enquadram-se os servidores estatutários, os empregados públicos e os servidores temporários.

Servidores estatutários: estão sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos. É este o servidor que nos referenciaremos aqui, pelas suas peculiaridades. São os chamados “concursados” e ocupam cargos efetivos na função que foram aprovados (art. 37, II, CF2).

Empregados públicos: são contratados e submetidos ao regime da legislação trabalhista (CLT) e ocupantes de emprego público.

Servidores temporários: são contratados por tempo determinado, em caráter excepcional, para atender eventual necessidade (urgência) de interesse público (art. 37, IX, da Constituição Federal). Estes exercem função pública sem que estejam vinculados a cargo ou emprego público.

A ESTABILIDADE

Os servidores públicos estatutários só podem ser demitidos após devido processo disciplinar. É a chamada estabilidade. Algo que muitos, principalmente em tempos de crise, buscam ao prestar concursos públicos. A exoneração (demissão) só ocorrerá nos casos de infração grave, como abandono do trabalho ou corrupção. O servidor terá direito à ampla defesa, sendo julgado por um comitê disciplinar e, em não concordando com a decisão, poderá ainda recorrer ao Judiciário.

A estabilidade se funda no princípio da continuidade do serviço público. Tem razão de ser a fim de evitar que, iniciada nova gestão, os servidores sejam demitidos para contratação de novos, alinhados à política do novo gestor.

No entanto, pode ser também causa da ineficiência do serviço público, uma vez que sugeriria possível “acomodamento” do servidor, principalmente considerando a quase inexistência de planos de carreiras na maior parte das funções. O plano de carreira afastaria, de certa forma, esse pretenso acomodamento, já que o servidor buscaria saltos maiores dentro da carreira.

A ausência do plano é um dos nós do serviço público. Além disso, há aqueles que simplesmente buscam o serviço público visando salário e estabilidade, sem maiores ambições. Muito disso é culpa da nossa cultura do concurseiro.

Os cursinhos preparatórios para concurso são uma febre no Brasil. Quem já não passou na frente de um ou foi “atacado” por propagandas na internet dos cursos à distância? E a razão é uma só: as pessoas querem ingressar numa carreira pública.

Mas o cursinho te prepara para o concurso, não para a carreira (a imensa maioria, pelo menos). O concurso visa estabelecer competência para ser aprovado e não competência para o cargo. E isso acaba engessando a burocrata dinâmica da máquina pública.

Sem plano de carreira, o servidor, estável no cargo, não vê muito sentido em se empenhar além do mínimo necessário. Esse comportamento não é exclusivo do servidor público. Saia por aí e veja o quão minimamente os empregadores privados se esforçam em suas funções. Recentemente ouvi história de um funcionário das de uma gigante do varejo em um shopping da cidade que, ao ser questionado sobre a existência de um determinado produto na loja, simplesmente desdenhou com um “Ah, procura por aí que você deve achar”. E ele não tem estabilidade.

É um mal da nossa sociedade. Pessoas precisam de dinheiro e se dispõem a cargos e funções nos quais não se encaixam, não têm prazer algum em exercer, por necessitarem do salário. Mas parece que no caso do serviço público isso fica mais em voga pelo uso do dinheiro estatal, de todos nós, para o pagamento de servidores que, na visão dos usuários do serviço, primam pela ineficiência.

Quantas vezes não se viu, por aí, em obras de reparos nas vias públicas aquele batalhão de servidores com um fazendo o serviço e os demais observando? Tenho quase certeza que tal atitude é roteiro de uma meia dúzia de piadas, inclusive.

Para enfrentar o problema, recentemente, com um belo atraso, foi sancionada e publicada a Lei 13460/2017, que estabelece o Código de Proteção e Defesa Usuário do Serviço Público.

O novo código explicita os direitos básicos dos cidadãos diante da administração pública, direta e indireta, e diante de entidades às quais o governo federal delegou a prestação de serviços. As regras protegerão tanto o usuário pessoa física quanto a pessoa jurídica.

Além de estabelecer direitos e deveres desses usuários, o texto determina prazos e condições para abertura de processo administrativo para apurar danos causados pelos agentes públicos.

Ao todo, o processo deve ser concluído em cerca de 60 dias, desde a abertura até a decisão administrativa final. O processo será aberto de ofício ou por representação de qualquer usuário, dos órgãos ou entidades de defesa do consumidor.

Cada poder público deverá publicar, anualmente, quadro com os serviços públicos prestados e quem está responsável por eles. Além disso, cada órgão ou entidade detalhará os serviços prestados com requisitos, documentos e informações necessárias além de prazo para atender a demanda e etapas do processo.

A acessibilidade foi incluída entre as diretrizes para prestação de serviços públicos, além de urbanidade, respeito e cortesia no atendimento.3

Além disso, o Senado Federal, abriu consulta pública sobre lei que permite a demissão de servidor público.4 O projeto prevê uma série de avaliações aos servidores, liberando a demissão daqueles que apresentarem seguidos resultados negativos nas provas aplicadas.

Mais do que projetos que permitam a demissão mais rápida do servidor ineficiente, o Poder Público deveria pautar sua atuação pelo incremento de planos de carreira, incentivando maior empenho e melhoria do desempenho do servidor, consequentemente do serviço público.

O servidor, por sua vez, deveria pautar a sua atuação profissional pela ética e dedicação ao cargo, visando a celeridade e eficiência na prestação obrigacional. Agindo assim, a possibilidade de engajamento da população em geral nas pautas de reivindicações das categorias aumentaria sobremaneira, o que faria bem para os servidores e para a sociedade.

O viés disso tudo é que é utópico demais. Nós somos seres humanos demais para atingir tal nível de humanidade e comprometimento.


______

1DI PRIETO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 19° Edição. Editora Jurídico Atlas, 2006.

2Art. 37, II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;.

3http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/06/27/normas-de-protecao-e-defesa-de-usuarios-do-servico-publico-sao-definidas-em-lei

4https://extra.globo.com/emprego/servidor-publico/senado-abre-consulta-publica-sobre-lei-que-permite-demissao-de-servidores-publicos-21562543.html

segunda-feira, 10 de julho de 2017

À meia luz

Muitas vezes
era apenas a luz
de uma luminária barata,
colocada do lado da cama
para jogar luz sobre a folha em branco,
enquanto a caneta ia preenchendo de vida o vazio.

Outras vezes
era apenas a luminosidade
da tela em branco,
de um arquivo novo,
em um programa qualquer
de edição de texto,
onde os caracteres pretos,
que vinham seguidos do traço intermitente vertical,
iam criando personagens,
contando histórias,
falseando sentimentos
e detalhando-os verdadeiros,
como se fossem o que não são,
mesmo sendo.

Muitas vezes
a falta dessa luz mínima
matava no nascedouro
diversos seres imaginários.

Muitas vezes o cansaço
e a preguiça até o faziam.

Muitas vezes
a falta de um lápis,
uma caneta,
um instrumento hábil qualquer
que pudesse dar vazão aos demônios
que gritavam
e queriam ser ouvidos.

Muitas vezes
nem um nem outro,
o silêncio apenas.
Muitas vezes.

Descrever o mundo em que vivo,
o meu mundo,
dentro em mim,
com meus todos eus e os demais,
eis o que faço nas sombras.

07 de julho de 2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Desenlace

Para viver é preciso estar vivo.
Mas, o que é a vida nesses dias imóveis?
O sol abrupto invade as casas,
ressequindo relacionamentos vãos.

Tudo é desespero e desenlace.
Tudo é mais do que se poderia sentir
e não sentimos nada.

O desespero é de querer viver
sem ter por onde.
Enganaram-nos!

Falaram de um sonho.
Contaram esse sonho.
Escreveram sobre ele em muros,
em livros, em bilhetes e músicas.
Em diversas e variadas versões,
nos fizeram acreditar.
Mas o sonho acabou,
ainda em sonho.
Restou-nos o desespero.
E dele não nos falaram.

Se Deus é por nós,
porque essa angústia?
Por que essa não vontade?
Por que esse caos todo
e tanta injustiça?

Talvez Niezstche estivesse certo.
Talvez todos estejam errados.
Talvez nada faça sentido.
Talvez melhor seja não ser.
Como saber o que é melhor?
Como saber o que é real
se nem sabemos o que é viver?

04 de julho de 2017

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Novos deuses

Os deuses antigos atravessaram o Atlântico,
vieram com suas caravelas, seus barcos,
seus milhares de homens perdidos,
suas más intenções de conquistas,
e seus desconhecimentos sobre o mundo todo.

Pensavam que o mundo era a Europa,
pensavam que o além-mar pertencia ao fim.
Todos poderosos deuses
que não conheciam o mundo onde nasceram,
o mundo que diziam ter criado.

Na América saquearam, roubaram,
mataram, torturaram,
tudo para se estabelecer como salvadores,
e assim se fizeram.

Por um tempo.

Logo a América mostrou o seu espírito
e esse espírito mostrou não saber dividir o terreno.
Partiram para o contra-ataque.
Invadiram as mentes dos crentes,
dos céticos, de cada um dos humanos
que caminhavam sobre a terra banhada de sangue.
E de sangue serviram cada um dos humanos
que pediam por isso.

Criaram necessidades.
Venderam essas necessidades.
Dividiram e conquistaram,
conforme manda o manual.
E conquistaram mentes e corações.

Deram sonhos, como os deuses antigos.
Deram razões, como os deuses antigos.
E os tiraram.
Aos poucos,
sem que notassem os humanos.
Exatamente como fizeram os deuses antigo.

Fizeram o homem ir mais rápido, mais veloz,
fizeram o homem mais forte, mais potente,
curaram dores e doenças em minutos,
possibilitaram a transcendência,
permitiram aos humanos se enxergarem deuses.

Levaram aos céus,
à Lua,
à Marte e mais além.

Invadiram lares,
pedindo licença,
e se estabeleceram.
Primeiro na sala.
Depois quartos,
cozinha, banheiro,
cada momento,
sempre em contato,
em grandes, gigantescas, médias e pequenas telas,
em áudio, em três dimensões,
com todos os cheiros e gostos,
com todos os nomes.

Deus está morto, disse Niezstche,
preconizando uma era que não viveu.
Os deuses morreram.
Seus seguidores voltaram seus olhos,
abraçaram os novos deuses
que erigiram seu império desde a América
para todo o mundo.
Sem precisar criar qualquer ser,
sem precisar criar qualquer mundo,
tomaram o mundo que aí estava
e fizeram seu reino.

Os novos deuses estão entre nós
e são todo poder,
sem bondade.

30 de junho de 2017