segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Bandidos e bandidos

Não. Não adianta você querer bancar de superior moral para o seu coleguinha que defende um determinado bandido. Você também vai ter o seu bandido de estimação. Seja na vida real, seja na ficção. E qual a diferença entre as duas? Pense bem. Você vai saber a resposta.

Você sabe que torceu para os Underwood em House of Cards.

Você sabe que torceu para Pablo Escobar em Narcos.

Se você assiste Gomorra (duvido), você também sabe para quem está torcendo e torceu até aqui.

Você sabe que vai, quase sempre, torcer para o bandido, porque, invariavelmente, o bandido é o que luta contra o sistema, ele é o mais fraco.

Ah, mas a gente torce também para os super-heróis. Sim. E nem por isso o super-herói deixa de ser o "bandido" na escala de forças. É sempre um lutando contra vários. Na hierarquia de poder, é Davi contra Golias.

E foi assim até quando o herói parecia Davi. Em Tropa de Elite, o Capitão Nascimento era o Golias contra o sistema. Porque ali o sistema era o inimigo, não os pequenos traficantes que o BOPE matava sem dó. Quantos grandes traficantes internacionais (porque drogas ilícitas, pasmem, via de regra, não são cultivadas no Brasil, elas vêm de fora), foram mostrados nos filmes? Deu a entender que figurões do Congresso dão aval? Sim. Mas quantos foram presos? Capitão Nascimento saiu como herói.

E assim heróis são criados aos montes nas mentes dos frágeis brasileiros distantes do aparato estatal. O traficante é o poderoso que enfrenta o Estado sozinho. Ele é o herói. A figura que o menor venera e quer reververar com a sua existência.

No fundo, todo mundo tem um bandido de estimação.

O que vale, enfim, é o tanto de ração que você dá para o seu bandido. É isso que o fará crescer.

Ou não.