segunda-feira, 5 de junho de 2017

Abaixo o desarmamento!

José da Silva é um brasileiro como tantos outros, honesto, trabalhador, defensor da família, dos bons costumes, devoto de Nossa Senhora Aparecida, chegou à classe C depois de políticas de incentivo ao consumo, orquestrada por um governo que diziam ser de esquerda, defensor dos trabalhadores, mas que enriqueceu banqueiros, latifundiários e empreiteiros, e decaiu para a classe D após a maré alta baixar e o preço pelas equivocadas políticas de isenção fiscal de determinados setores amigos não poderem mais ser mantidas.

José da Silva está puto com o mundo, com a bandidagem, com a roubalheira. Protesta nas redes sociais, brigou com amigos, não vê mais o primo, está emburrado com o irmão. Participou de várias passeatas com sua camisa da seleção canarinho, que comprou no camelô. Gritou, bradou, urrou. Foi à luta.

Na pauta diversificada, lutou contra tudo, defendeu a revogação da lei do desarmamento com unhas e dentes. Defensor da família e dos bons costumes queria ter o direito de empunhar uma arma contra bandidos que quisessem o mal dos seus. Lutou, bradou, urrou. Foi à luta.

E ficou feliz quando, finalmente, a famigerada lei caiu, liberando os cidadãos de bem a possuir uma arma de fogo para sua defesa e de sua família. Estava em êxtase, simplesmente em êxtase.

Assim que as regras passaram a valer, dirigiu-se senhor de si, altivo, radiane, peito estufado para uma loja, a fim de adquirir a sua proteção familiar. Desceu do segundo ônibus quatro quadras da loja que escolhera. Foi revistado na entrada, questionado. Ao adentrar, perquiriu o vendedor sobre a aquisição desejada. Foi murchando: curso de mil reais, a arma, a mais simples, dois mil e oitocentos dinheiros. José da Silva ganhava salário mínimo.

Mas, ele era um cidadão de bem, haviam dito que ele era merecedor de defender os seus, que ele não poderia contar com ninguém. Sem pestanejar, José da Silva, o cidadão, o pai de família, comprou o curso, a arma, parcelando em 4 vezes. Quatro meses de salário.

Morreu de fome. A mulher e os filhos os tinham deixado. Mas morreu sem ser roubado. Possuidor do instrumento que lhe dava segurança.


31 de maio de 2017

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