segunda-feira, 29 de maio de 2017

Quero morrer anônimo

Quero morrer anônimo.
Talvez por isso eu tenha me desfeito de amizades,
Talvez por isso eu tenha me tornado um recluso.
Não converso.
Ouço.
Escuto e vejo como agem.
Quando puxo assunto é só para saber o que vivem por aí,
O que andam pensando, afinal.

Quero morrer anônimo.
Sem ter quem chore por mim.
Quem sabe até mesmo sozinho,
Em algum lugar sem lugar,
Perdido em alguma reticência no caminho.

Quero morrer anônimo.
Enterrado em vala comum,
Sem flores, sem velas, sem esperança de uma vida no pós-morte.
Quero apenas morrer,
Deixar guardado onde possam encontrar,
Todos os meus textos burros
Que ninguém conseguiu entender.
E que não saibam quem escreveu.
E que inventem um nome,
Escolham um nome,
Dentre os que eventualmente encontrem inscritos
Implicitamente nos textos.

Quero morrer anônimo.
E que a fama me alcance no além vida.
Afinal, que melhor sorte merece
Quem escolheu ser poeta?


20 de maio de 2017

quinta-feira, 25 de maio de 2017

ABNT

A poesia não aceita normas da ABNT.
Não!
As linhas devem ter espaço simples,
Para os versos ficarem unidos
E gritarem em uníssono
A dor que o poeta finge sentir,
Mesmo que a sinta.
Sem espaço antes,
Sem espaço depois.

Espaços só entre as estrofes
Que separam temas
E ritmos
E movimentos.

A poesia não é ciência que respeita regras,
Ela se faz fluindo
Sem rumo certo no começo
Perdendo o rumo no meio,
Nunca o encontrando no fim.

E então se faz poesia,
Sem meio,
Sem começo,
Simples assim.

20 de maio de 2017

segunda-feira, 22 de maio de 2017

PHd #1: Gastronomia

O PHd é uma coluna quinzenal do blog onde expressarei todo o meu profundo conhecimento superficial sobre coisas diversas que não domino (o que basicamente se refere a tudo na vida), mas que quero comentar, com ares de especialista.

A sigla deriva das possíveis razões sociais que a coluna pode ter, e você ajudará a escolher, votando AQUI.

Para estrear, ela, a estrela da hora: a Gastronomia.


PHd #1: Gastronomia

Não parece ser nenhum segredo que a gastronomia ganhou um lugar de destaque no Brasil. Nos últimos anos, vários realities sobre o tema tomaram os canais televisivos, com destaque para o Masterchef, na TV Bandeirantes, além de outros tantos em canais pagos como TLC, H&H, etc. Inúmeros cursos se espalharam, inclusive de nível superior. Virou a “última moda” ser chef. Tenho, diante de tal cenário, um certo receio, que inclusive é compartilhado por Jun Sakamoto, chef considerado o melhor sushimen do Brasil. É o receio da frustração daqueles que embarcam nesse mundo.

Explico-me.

A glamourização da posição de chef de cozinha esconde todo o histórico do cargo. Hoje as pessoas buscam os cursos de gastronomia pensando em abrir o seu próprio restaurante, e fazer sucesso, como os famosos dos programas televisivos. Isso é algo de extremo perigo, pois pode tornar a profissão num similar a de jogador de futebol. No campo, todos querem o estrelato de Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo, mas, quantos jogadores de futebol existem no mundo? Quantos alcançam a fama? No Brasil, por exemplo, mais de 80% recebem menos de mil reais.[i] Com o avançar da carreira, é possível que muitos desses aspirantes à estrela acabem frustrados, mantendo-se na profissão para poder pagar as dívidas do dia-a-dia, já que muitos optam por abandonar os estudos em busca do sonho do estrelato.

No caso da gastronomia, penso que haja a possibilidade de algo parecido acontecer.

Isso porque, como dito, o aspirante à chef não pensa nas etapas que precisará percorrer, que são várias e desgastantes (é só assistir um Chef Table’s da vida para notar). O aspirante a chef quer sair do seu curso e abrir um D.O.M., ser apresentador de programa no TLC, ter seu nome no Guia Michelin. Algo que pouquíssimos conseguem. E antes, esquecem que a posição de chef é apenas um status de renome para a profissão que efetivamente carregam: a de cozinheiro.

Não adianta querer ser chef sem se assumir cozinheiro em primeiro lugar. Não adianta querer ser cozinheiro sem gostar de comer, antes de tudo. E gostar de comer é gostar realmente de comer. Comer de tudo. Provar de tudo. Se aventurar. Quantos dos que hoje ocupam as cadeiras de formação gastronômica podem se dizer aventureiros da comilança? Quantos, de fato, gostam de comer? Quantos, de fato, gostam de cozinhar? Jun Sakamoto, ao tratar do assunto[ii], diz que muitos dos que hoje encaram cursos de gastronomia o fazem visando o empreendedorismo gastronômico. Na opinião do chef, esse que assim age deveria estar em um curso de Administração de Empresas, e não num curso de gastronomia. Ter o próprio restaurante é consequência da vivência dentro da cozinha. Muitos chefs de calibre não possuem esse desejo. Preferem ser empregados, dedicam-se a paixão que os levaram para frente do fogão: cozinhar!

Portanto, do alto do meu conhecimento sem par sobre a cena gastronômica do país, concluo que, a se manter essa glamourização e essa busca pelo empreendedorismo gastronômico, em contraste com a vontade, o desejo e o amor pelo ato de cozinhar, ficaremos no limbo entre chefs e chefes, até descobrirmos como um “e” faz diferença na cozinha.


[i] http://www.cbf.com.br/noticias/a-cbf/raio-x-do-futebol-salario-dos-jogadores#.WRf5DdQrLs0
[ii] http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2016/09/faculdades-de-gastronomia-sao-um-engodo-uma-mentira.html

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Desmistificando o Mundo #1: A teoria do Único Dono



Sexta-feira. Hora do almoço. Intervalo do jornal. Diante de várias propagandas ruins de cerveja e outros produtos (nota mental: fazer um desmistificando o mundo sobre essas propagandas), uma me chama a atenção. Tratava-se de propaganda de uma revendedora de carros usados famosa na região e anunciava promoções “malucas” de “seminovos” com a característica sensacional de serem “único dono”. Parei para refletir sobre o assunto.

0,8s depois, decidi que já era passada a hora de por fim a essa teoria inventada pelas revendas de veículos automotores (que eu concluí ser uma teoria inventada no meio daqueles 0,8s entre a exposição à propaganda e a decisão de por fim).

Não existe “único dono” quando se compra veículo seminovo em uma revenda! Explico.

Porém, antes de adentrarmos à mágica explanação acerca da inexistência do termo, cabe-nos conceituar o que é dono para o que vem a seguir:

Momento de conceituar:
Dono, para fins da teoria do único dono, é todo possuidor de veículo que o adquiriu após o primeiro emplacamento.
Fim do momento de conceituar.

Bem, partindo da premissa acima, analisemos o ato de compra de um veículo 0km:

  • Ter CNH. Não é obrigatório, mas, qual a razão de se querer comprar um carro se não irá dirigi-lo, certo?
  • Ter dinheiro. Ok, ok. Você pode não ter todo o dinheiro, mas, ao menos a expectativa ou possibilidade de tê-lo deverá existir (senão o banco não irá aprovar o seu financiamento).
  • Ir a uma concessionária e comprar.
  • Documentação.
  • Emplacamento.
Voilà! Você acaba de se tornar o proprietário de mais um veículo particular, onde, provavelmente, circulará sozinho na maior parte do tempo, entupimento as já entupidas vias públicas e despejando gás carbônico na atmosfera, contribuindo para o atraso no trânsito, o estresse nos grandes centros e o fim da vida humana na Terra.

Passa o tempo, você cansa do carro. Vai trocá-lo. A concessionária o aceita como forma de pagamento. Você deixa o usado lá e sai com um novo. E para onde vai aquele usado? Para uma revenda!
Se você tratou bem o veículo, esse sairá naqueles panfletos entregues nos semáforos, ficando mais famoso que você, com o carimbo em letras maiúsculas: ÚNICO DONO.

Mas, é único dono???

Você vendeu o seu usado para a concessionária, pegou o dinheiro e deu como parte do pagamento de um veículo novo. Assim, a concessionária passa a ser o novo dono do veículo. Que depois ganhará um outro dono, quando for comprado na revenda, na forma de seminovo ou usado. Ou seja, quando você comprou o veículo seminovo ou usado na revenda, esta era a dona, A SEGUNDA DONA.

Conclusão, não existe único dono para veículos comprados em revendas de seminovos ou usados.

Por hoje é só o que tinha por hoje.
Amanhã um pouco mais do amanhã.
Beijo, abraço, aperto de mão ou aceno ao longe.


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quinta-feira, 11 de maio de 2017

A vida não é um filme



Nem tudo é o que parece.
A vida é um filme de roteiro improvável,
muitas vezes entediante.

O sucesso, como dizem, é 1% inspiração,
99% transpiração.
A vida é 99% tédio,
1% felicidade.

São os pequenos momentos apenas,
os raros pequenos momentos que,
por satisfação tamanha em compartilhar,
parecem transcender a sua insignificância “lapso temporal”.
E transcendem,
chegando mesmo a nos fazer crer
que é possível ser feliz.
Não é.

A felicidade é estágio passageiro.
Somos dotados da incrível capacidade
de remoer uma tristeza durante toda a vida
e de não saber dar valor ao pequeno instante.
Porque felicidade é uma droga e,
como toda droga,
te faz querer mais e mais e mais.
Mas, não é tão fácil encontrar felicidade nas bocas de fumo,
os traficantes apenas nos vendem ilusão,
e por estarmos demasiado necessitados acreditamos.

A felicidade é um pequeno instante
que pode ou não se perpetuar.
Resta a nós dar a ela o valor devido,
levando esses ínfimos momentos
como um amuleto,
a nos fazer recordar que na vida,
apesar do mar revolto,
podemos ter um pouco de vento a favor.

E se sabemos que a vida não é um filme,
por que ainda queremos fazer de nossa vida sexual
um pornô digno de nota?

26 de abril de 2017


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segunda-feira, 8 de maio de 2017

O que eu não gosto

Eu não gosto de gordo,
Eu não gosto de pobre,
Eu não gosto de viado,
Eu não gosto de feminazi.

Eu não gosto de crentelho,
Eu não gosto de preto,
Eu não gosto de polaco,
Eu não gosto de amarelo.

Eu não gosto de comuna,
Eu não gosto de coxinha,
Eu não gosto de bombado,
Eu não gosto de mulher macho.

Eu não gosto de pintor de rodapé,
Eu não gosto de girafa,
Eu não gosto de sapatão,
Eu não gosto de fracote.

Eu não gosto desses termos todos
Que classificam de forma preconceituosa
Sem dizer nada.

E se você os usa e não acha grande coisa,
Eu não gosto de você.

25 de abril de 2017

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Nenhum outro lugar

Quando estou no seu abraço,
Suas mãos grudadas nas minhas,
Nossos passos caminhando lado a lado,
Os sons divididos entre risos e declarações de amor,
Os corações na mesma sintonia,
Dividindo sangue entre as veias
Que se entrelaçam,
Se fazem um só sistema,
Um só caminho.

Quando meus olhos enxergam pelos seus,
Minha boca na sua respira a vida,
Meu corpo é seu abrigo,
Seu corpo a minha paz,
Nossos pés pisam a mesma pegada,
E não existimos mais eu e você,
Não existe mais o mundo lá fora,
Tudo é silêncio confessional,
Tudo é o que sempre deveria existir.

Quando a dor deixa espaço para o amor,
As inseguranças se agarram entre os dedos
E se confortam com o calor sentido,
A esperança cresce, ocupando o vazio
Que outrora se fazia único ocupante do espaço
Entre alma e o resto.

Quando o amor é só o que basta,
Os risos a música ouvida em mãos dadas,
E o caminho é um eterno passeio a beira-mar
Eis o meu estar em ti, a sorrir, a viver, a amar,
E não preciso mais de nenhum outro lugar.

23 de abril de 2017

à Lady Anne MSR

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Mogli às avessas

Ela desfilava entre as nuvens,
insinuando-se aos meus instintos mais febris,
e eu era um refém do seu vai e volta,
ora aqui, ora ali,
surgindo, ressurgindo,
escondendo-se entre as trevas de minhas angústias,
brincando com meus desejos,
fazendo-me seu,
como jamais fui de ninguém,
nem de mim.

Em meus sonhos,
escondia-se entre reflexos disfarçados
a observar-me de longe,
distante,
dominando sem que eu me desse conta,
mostrando um pedaço aqui,
outro ali,
sem me deixar saber ser ela no todo.

E quando se mostrava sublime,
plena, sem vergonha
surgindo radiante da escuridão de meu desespero,
o corpo, em reação animal,
explodia em êxtase e fúria
e eram corpos e saliva e sangue
e fome sem mais ter fim,
até o dia amanhecer,
até ela desaparecer.
Então perdido no mundo, de pele nua,
ainda coberto de sangue de minhas vítimas,
uivava solitário à minha amada Lua.

23 de abril de 2017