quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Anticlímax

Não, não tem salvação, não tem esperança.
A ideia que te vendem é falsa.
O ouro que te entregam é falso.
O sonho acabou desde o primeiro sonhador.

A vida é assim mesmo.
Você nasceu, você vai morrer.
O meio tempo é só o meio tempo,
é só sobrevivência,
é só tentar não morrer.

Não, não tem salvação, não tem esperança.
Você vai ser crucificado.
Você vai ser enterrado.
Você vai ser demitido.
Você vai.

Eles ganharam.
Eles sempre ganharão.
Eles sabem as regras.
Eles criam as regras.
Eles as impõem.

Não, não tem salvação, não tem esperança.
Você tem que obedecer.
Você tem que temer.
Você tem que crer.
Você tem que acreditar.

E comprar mais e mais do que não precisa.
E consumir tudo o que de inútil fazem não parecer.
E gastar o salário que não ganha.
E se individar.
E dever.
E não ser.

Não, não tem salvação, não tem esperança.
A vida é uma bosta.
A vida é uma merda.
E você tinha que nascer, né!?
Você tinha que respirar.
Azar o seu.
Azar o nosso.

Eles venceram.

24 de setembro de 2017

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Tá pegando fogo, bicho!

Era uma vez, em um tempo distante, um país que, depois de passar por anos e anos em meio a censura ditatorial, resolveu que seria bacana entrar de cabeça na democracia. E obrigou todos os seus cidadãos a participarem dessa grande festa.

E os cidadãos participaram. Uns meio a contragosto. Outros cheios de esperança. E logo a esperança se foi, o medo tomou conta. Até que um pré-hipster (que tem barba grande e ainda não desenvolveu o coque) devolveu a esperança a todos, com seu discurso meio lá meio cá, e foi eleito nos braços do povo. E reeleito no braço mais direito que esquerdo do povo.

O povo embebedado e maravilhado com tudo o que pode comprar nos anos do governo do pré-hipster, elegeu a sua sucessora sem sal e açúcar e continuaram marinando nas ondas do consumo barato. Nas eleições seguintes, o país que vivia num sonho pulverizado de leite ninho e recheado de nutella, passou a entrar em conflitos cada vez mais comuns. Já não era mais o país do café com leite. Agora leiteiros e cafeicultores se digladiavam em busca do domínio do fato. Nesse contexto, democraticamente, a sucessora sucedeu-se a si própria, prometendo o que não poderia e não conseguiria e não cumpriria logo após a posse.

Seguiu-se a divisão entre café e leite. Eles já não se misturavam. Curiosamente, dentro do café as divisões pulverizavam, e descafeinados passaram a rejeitar os cafeinados. Veio o impeachment, e os descafeinados se aliaram aos leiteiros para formar um governo sem muita energia.

A falta de energia logo ficou evidente com a queda de vários ministros, denúncias contra o presidente descafeinado (que é bom deixar claro, foi escolhido como vice – e eleito democraticamente também – pelo partido da cafeína por questões eleitoreiras – e que não podem sair se lamentando) e crise seguida de crise. O governo sem cafeína ficava, por óbvio, cada dia mais e mais insustentável.

Enquanto isso, os extremos se dividiam nas redes sociais, xingavam-se, humilhavam-se. Uns criticavam exposições com temas de outros. Outros censuravam manifestações de uns. E eliminavam-se uns aos outros, aos poucos. E uns criticavam, com outros, a não manifestação dos isentões, o centrão.

E seguiam-se conflitos violentos nas redes sociais. Bloqueios. Invasões. Xingamentos. Rts. Haters. Compartilha mais que o outro. “Senta o like”. Etc. Etc. Etc.

Quando saiam do virtual, a coisa ficava séria. E descafeinados provocavam cafeinados. E cafeinados provocavam descafeinados. E ninguém sabia quem era o provocador e o provocado.

Curiosamente, os que, pretensamente, eram de esquerda, acabavam entrando em conflito com os agentes públicos de segurança, mesmo sendo ferrenhos defensores do Estado total. Já os de direita, liberais, defensores do Estado mínimo, escondiam-se atrás dos escudos de CHOQUE do aparato estatal de segurança.

E quando lançaram o desafio para que, finalmente, direita e esquerda se digladiassem, como outrora, em uma arena, numa batalha até a morte, para saber quem, de fato, era o mais forte, nunca, na história desse país, o centrão se viu tão fortalecido.

E o torneio foi cancelado, por falta de participantes.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Eu sempre fui do contra

Eu sou contra, sempre fui contra, era contra e sempre fui.
Até que um dia um amigo me levou para provar.
Na primeira eu fiquei meio sem jeito.
Não sabia como agir. Ele me encorajou "vai, prove, você vai gostar". Eu não sabia. Dei o primeiro tiro.
Aquilo explodiu minha mente. Em segundos era como se um mundo novo abrisse ali, bem na minha frente.
Mas o efeito passou rápido.
Boom! Mais um tiro. Eu prometi que seria o último.
Minhas pupilas dilataram.
Meu sangue fervia em minhas veias, meu corpo estava em fogo.
Não resisti.
Outro.
Outro.
Outro.
E mais outro.
Descarreguei todo o tambor.
Eu estava em êxtase.
Queria isso para minha vida.
Carregada, podendo usar quando me sentisse vulnerável.
Eu seria um rei!
Eu serei um rei!
Entrei na primeira loja e apontei para a mais brilhante.
Aí a realidade bateu.
Eu nunca teria dinheiro para sustentar o vício.
O revólver mais simples custava mais que o dobro do meu salário todo.
E ainda teriam os custos do curso.
Virei a esquina, comprei uma de brinquedo
e continuo dando tiros de água
nos meus sobrinhos incautos.
Ainda continuo contra.
Ainda bem.

15 de setembro de 2017

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Sometimes

E é tanta voz
é tanta gente
é tanta coisa.

E tanta gente de lá
tanta gente pra lá
e tem os de cá
que não param.

E é tanta coisa
tanto sei lá
que vem e vai
de lá pra cá,
daqui pra lá.

Nem deus,
nem Jeová,
nem o capeta,
nem Alá.

Às vezes o que a gente quer é só a solidão,
ficar sozinho, num canto, sem ninguém,
e poder deixar tudo pra trás,
e poder morrer em paz.

06 de setembro de 2017

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

PhD #5: Sobre um deus único

A existência ou não de um deus é fato que não discutirei aqui. Você deve acreditar e seguir aquilo que seu coração mandar. Desde que seu coração se paute pelo respeito e tolerância pelo outro, como sendo outro e diferente de ti. Se seu coração pautar por dogma diferente desse, então passe a questionar a sua crença e buscar outra que se coadune com esse mantra da coexistência pacífica. Só o respeito e a tolerância podem fazer futuro na existência humana.

Pautado antes no respeito é que desvinculo o questionamento da falta daquele. Questionar é tentar entender, não desrespeitar. Quem enxerga o questionamento como desrespeito está de raízes plantadas num fundamentalismo cego (como todos os são), sem margens de possível diálogo, flertando sempre (e buscando) o embate, ao invés.

Então, feitas essas premissas, afirmo: é impossível a existência de um deus único. Explico-me.

Há muito tempo, eu que já flertei com diversos seguimentos religiosos, passando inclusive pelo paganismo wiccano, e, mal ou bem, busquei entender a lógica (se é que existe lógica) dentro de tantas outras vertentes, questiono-me acerca da efetividade do monoteísmo na sociedade.

Tendo como base o cristianismo para fins de análise, religião que agregou em si, para fins de maior aceitação pública (marketing na sua melhor forma), notadamente quando reconhecida como religião oficial do Império Romano, diversos aspectos das religiões pagãs (data do Natal, Páscoa, etc – busquem registros históricos) e judaicas, a crença num deus único e singular enfrentou grandes dificuldades.

A religião, antes da formatação em massa que deu origem às três grandes abraâmicas, e aqui cabe um novo parêntese, posto considerarmos as religiões do ponto de vista ocidental, era assunto familiar. As famílias cultuavam os antepassados como deuses, não deuses como criadores. Sendo assim, a multiplicidade de deus era a regra. O livro “A Cidade Antiga”, que tive que ler (obrigado UEL), por ser obrigatório na disciplina de Direito Romano na faculdade, explica em boa medida o alcance desse culto.

Ao me deparar com o “Livro de Iniciação da SOUST” (Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade), que, já de início, abre-se com o título “Cada um encontra o Cristo que procura”, e permeado de uma bad sem explicações, cresceu em mim a vontade de fazer esse texto.

Cada um encontra o Cristo que procura, logo ao me ver diante desse título, confesso, não mais li qualquer coisa. Talvez porque queira, depois de ler, refletir sobre o escrito e, possivelmente, ver nisso outro motivo para voltar a escrever (gerando conteúdo). É que o título em si deflagra grande parte da minha visão de mundo religioso, contrapondo-se ao fato propagado das “religiões monoteístas”.

Considerados fossem ovelhas num rebanho, o termo “religião monoteísta” até poderia ser baseado em uma verdade fática. No entanto, quando falamos de religião, tratamos do único ser capaz de questionar a própria existência e de fazer futuro diferente o futuro que a sociedade lhe impõe.

Parêntese outro: se você vê nessa afirmação o questionamento da ascensão social, por “n” motivos, não se esqueça que a morte, invariavelmente, é uma mudança de rumo no futuro imposto pela sociedade. Fecho o parêntese.

Dito isso, monoteísmo é o que menos poderemos esperar de qualquer religião, por mais explícita e detalhada esteja a mente do senhor criador de tudo o mais. O ser humano é uma espécie de memória, de vivência, de experiências. Não somos meros instintos ambulantes, lutando pela sobrevivência. Nós pensamos, calculamos, fazemos escolhas conscientes.

Somos diferentes. Temos visões diferentes sobre quase tudo. Por que seria diferente com o ser maior da nossa religião monoteísta escolhida? Não é!

Quando dizemos que “Deus é misericordioso”, para quais atos a misericórdia divina deve ser aplicada, na sua opinião? Pense. Agora pergunte para um colega mais próximo. Um colega não tão próximo.

Agora volte no tempo e pense como você responderia a essa mesma pergunta cinco anos atrás. Dez anos atrás (se tiver idade). Nós mudamos, o mundo nos muda enquanto interagimos com ele. E, sem que notemos, nossa visão de deus muda junto nessa mudança.

Se há o monoteísmo, por que essas mesmas religiões se multiplicam em um sem número de seitas interpretativas da vontade divina?

Ok, talvez você ache que eu esteja exagerando e confie na unicidade do pensamento.

Então vamos sair desse tema metafísico, para algo mais concreto.

Você é brasileiro, certo?

Você é coxinha ou petralha?

Por hoje é só o que tinha por hoje.

Amanhã (ou depois, um dia) mais do de amanhã.

Beijo, abraço, aperto de mão ou aceno ao longe.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Independência ou morte

A gente nasce dependente de tudo e todos. Somos dos raros animais que, largados à própria sorte no nascimento, não sobrevive às primeiras mudanças de luz. E nos mantemos assim, muito em função da forma de organização social, até muitos anos após a dilatação pulmonar.

O tempo vai passando, e vamos nos tornando menos dependentes. Menos dependentes, não independentes!

Aos poucos não dependemos mais de ninguém para nos alimentar (mesmo precisando que comprem a nossa comida), de ninguém para nos vestir (mesmo necessitando de alguém que compre as roupas), e assim em quase tudo.

Vamos nos tornando menos dependentes de um lado, para tornarmos dependente de outros.

Descobrimos o amor. Definhamos nele em várias formas.

Depois ingressamos, a contragosto, na vida adulta capitalista. Precisamos de dinheiro. E afundamos na dependência de um trabalho que nos torna infelizes, para que possamos ganhar uns pedaços de papel que nos permita comprar aquilo que sabemos que não precisamos, mas que, de alguma forma, nos acaricia o vazio de existir. Tornamo-nos dependente do consumo, do dinheiro.

Aos poucos percebemos que esse mundo não é justo, que trabalhamos mais do que o nosso salário paga, vamos nos afundando em desilusão, tristeza. A dependência passa a fazer parte das nossas vidas. Álcool, antidepressivos, pornografia, likes, curtidas… e então, só então, nos damos conta que, ao contrário do que fez querer parecer Dom Pedro I, com seu grito ficcional “Independência ou morte”, a independência só chega no pós-vida.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ejaculação precoce

Ejacularam na mulher, no ônibus, no pescoço. Todo mundo ficou alvoroçado. Menos o juiz, o promotor e o delegado. Só o ejaculador ficou excitado. E foi solto, não houve quem, constrangido, tenha ficado.

Ejacularam nos cidadãos, no Congresso, na boca. Todo mundo ficou em silêncio. Engoliram. Inclusive ministros do STF, do TSE. Só os ejaculadores ficaram excitados. E ninguém foi preso, porque uma Vil e Má Mente solta todos os amigos, sem ficar constrangido.