segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Quem pode saber

Como saber se as escolhas que fizemos foram as corretas?
Pelo nível de felicidade que elas nos proporcionam?
Mas... como saber se o nível de felicidade sentida,
considerando senti-la, de alguma forma,
é o maior nível de felicidade que poderíamos sentir?

As escolhas corretas, de certa maneira, deveriam, por assim dizer,
proporcionar o máximo nível de felicidade possível,
ou qualquer nível de felicidade proporcionada
já deveria ser o motivo de considerarmos corretas
as escolhas que fizemos?

Poxa, eu só queria saber se acertei
para poder mudar os rumos de tudo
caso eu tenha errado.

Quem pode saber?

26 de janeiro de 2018

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A gente nunca para pra pensar

A gente nunca para pra pensar no que a vida parece ser,
esse amontoado de atos e ações e pensamentos sem sentido,
que vão se amontoando em cantos, recantos e desencantos
e sem saber como lidar, a gente precisa viver.

Para nascer é preciso vir de cabeça,
se não for de cabeça a vida já começa mais complicada do que já é,
e pode resultar no nosso primeiro arrependimento,
se bem que, se a gente pensa bem, nascer já é para se arrepender.

E então vê-se a luz, os olhos a boca o nariz
tudo se abre para esse mundo que já estava por aqui
muito antes da mãe da gente ter noção que nos tem dentro dela.

Não há aula para viver com o mundo exterior.
Pra aprender é preciso ir perguntando o que se tem de dúvida,
mas se gente perguntar demais,
de repente, colocam-nos de lado,
tacham-nos malucos,
enfiam-nos remédios.

Aos poucos vamos notando que o mundo exterior é quem manda,
ele sempre esteve aí, ele sempre estará.
Com o tempo aprendemos a chama-lo de sistema,
e passamos a respeita-lo.
Uns os chamam de Jeová,
outros de Alá,
outros chamam de Deus,
alguns clamam por vários deuses,
mas a maioria concorda que o dinheiro é quem manda.

E vamos nos moldando e nos deixando moldar,
porque lutar contra o sistema cansa.

A gente nunca para pra pensar no que a vida parece ser,
porque no fundo a vida é um todo sem sentido,
onde uns fazem todo o trabalho
para que os outros possam viver.

Se a gente para pra pensar
a gente percebe que é um monte de pecinhas
trabalhando sem futuro de se ter.

A vida, em resumo, é nascer sozinho,
sentir sozinho,
pensar sozinho,
sofrer sozinho,
e morrer sozinho
na ilusão de que alguém compartilhou conosco
a angústia e o vazio do viver.

21 de janeiro de 2018

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Afinal

A idade, afinal, nos pacifica pela compreensão do mundo
ou pelo cansaço de saber que nada muda
por mais que queiramos mudar?

A gente nasce, cresce, se adolescenteia por anos a fio,
fica rebelde, grita, esbraveja, quer derrubar o sistema,
xinga, se ilude, luta, faz de tudo e não faz,
e aí vai envelhecendo,
tornando outra pessoa,
aos poucos,
aos poucos.

E quando a idade vai pesando do lado de lá da balança
a proximidade com o ocaso nos muda?
O sistema afinal nos derruba
ou passamos a entender que todo o esforço é força nula?

Covardes somos a maioria que deixa de lutar
pelo que achavámos válido a luta nos tempos idos?
Ou cansado somos todos e só nos damos conta
quando os ossos do ofício de viver
já são fracos demais para sustentar a tralha de batalha?

Que difícil decisão essa
de querer viver a vida que se quer,
quando só nos resta
a vida que nos sobra.

Afinal, eu envelheci
ou fui vencido ao final?

12 de janeiro de 2018

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Chat(o)

Se estou bem?
Não sei, como posso saber?
Estou vivo, vivendo, a vida não é para os otimistas
é para os realistas,
estar bem é uma questão de tempo
e o tempo urge.
Hoje sim, agora, mas e amanhã? E daqui a pouco?

De onde venho?
Venho de dentro do corpo do meu pai,
de onde migrei para o interior de minha mãe
e fui duplicando, evoluindo, crescendo.
Eu não queria sair quando me disseram ser a hora,
eu não queria.
Aí me forçaram.
Puxaram,
apertaram,
espremeram minha cabecinha
e me tiraram do conforto.
Nasci.

Quantos anos tenho?
Tenho todos os que vivi,
precisamente cada segundo de ar respirado,
cada ralado no joelho,
cada dedo furado,
cada erro e cada acerto,
cada choro e cada arrependimento,
mesmo seguido de outro choro.
Tenho todos os anos que são meus.

O que eu faço?
Bem, eu faço o que dá para sobreviver.
Eu tento enganar que sou bom em algo que fingi que aprendi,
e vou tentando ganhar a vida sendo o mais esperto da sala,
até que eu encontre alguém mais esperto.
Aí passo a evitar esse alguém
e os outros alguéns,
porque a vida é basicamente tentar se sobrepor aos menos espertos
e fugir dos sabidamente mais espertos.
Eu tento. Tentar! É isso que eu faço.

Ok! Ok! Eu entendo. Pode ir.
Raros são os que buscam a verdade,
porque a verdade arde mais que qualquer tapa na cara,
a verdade nos dói mais que qualquer parto,
a verdade é o Santo Graal que ninguém quer encontrar,
afinal, se viver é tentar,
o importante é sempre se manter na busca
e evitar ao máximo alcançar o objetivo.

07 de janeiro de 2018

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A altura que os olhos não enxergam

A meu pai, Carlos Roberto Celani, in memorian


Ele era alto, pernas compridas,
eu o via de baixo, altivo, soberano,
o colosso a me acompanhar em passos curtos
como eram os meus passos até ali.

Com o tempo fui me dando conta,
aos poucos, tempo a tempo,
de que ele não era tão alto assim,
os passos curtos foram se igualando aos meus passos curtos,
e então passamos a andar lado a lado.

Sempre de mãos dadas, abraços calorosos,
desmonstração pública de carinho e afeto,
as brigas ficavam em segredo,
como se soubessemos que não poderíamos nos dar ao luxo
de exibirmos contradições aos que nos viam.

Lado a lado caminhamos a maior parte da caminhada,
até que ele parou um dia, já cansado,
recostou-se em uma cadeira que estava por ali
e deixou-se adormecer para sempre.
Lado a lado ainda permaneci
enquanto os outros se despediam do corpo
que só guardava a imagem dele,
a última imagem dele.

O corpo se foi. Ele se foi,
mas não completamente.
A morte leva a presença física,
mas nunca as lembranças de quem fica.

Hoje, passados cinco anos do nosso último dia,
eu sei que ele não era alto como via quando criança
mas sempre foi bem mais alto
do que eu jamais poderia enxergar
estando de mão dada ao seu dedo,
no caminhar lento de um pai e de um filho.

E cada dia que passa ele fica maior,
como fica a saudade que dele jamais poderei matar.

12 de janeiro de 2018

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Viciosidade

Viver é um vício.
A vida é o maior de todos os vícios.
É preciso ser muito viciado na vida
para achar que ela faz sentido,
que ela vai te levar a algum lugar.
Não basta estar vivo para viver,
é preciso ser viciado na vida.
Por isso tanta gente em situação de miséria
insiste, luta, batalha,
faz o impossível para se manter vivo.
E não é outro o comportamento do alcoolatra,
do narcótico,
de todo viciado.
Por pior que o vício lhe faça
ele não larga,
arruma sempre uma desculpa,
faz do vício uma muleta
e segue tentando.

Por isso talvez o suicídio seja a única rehabilitação útil e eficiente.
Quem parte para a sua pousada
não volta a pensar na vida.

É preciso estar sempre viciado
e consumindo.

05 de janeiro de 2018

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Vida nula

Vida nula essa que vivemos
de vontades divididas no cartão
e sonhos financiados a perder de vista,
o material.

O carro, a casa, as viagens,
a TV ultramegablaster250K,
o último modelo do smartphone
que precisa de quem o use para ser smart
e perde metade do preço ao sair da loja,
tudo perde.

E ninguém ama mais,
ninguém nunca amou.

Todos querem viver a vida que não se tem
e quanto mais se tem, menos se vive,
busca-se, torna-se, ainda que livre na aparência,
escravos!
Do tempo,
do sonho,
do consumo.

Qualidade de vida virou sinônimo
de quantidade do que eu compro.
O que tenho virou a imagem do que sou
e o que sou de fato não importa.
Quem não ostenta está morto,
quem não tem não pode viver.

Querer já não é poder,
ter é que é.
Não basta querer,
tem que ter,
comprar,
mesmo que parcelado pela vida,
mesmo que financiado com o sangue e o suor
de todo o tempo livre
que se escraviza em busca do sonho.
Que sonho?

E a vida se anula
em boletos, faturas,
e todos os bens que não levaremos pra debaixo da terra.

29 de dezembro de 2017

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Eu hoje não acordei bem

Eu hoje não acordei bem.
Olhei para o lado da cama vazio,
olhei para o outro lado da cama vazio,
olhei para dentro de mim... vazio.
Senti falta de ser alguém.
Senti falta de querer ser alguém.
Senti falta do alguém que fui,
que em algum momento de ser,
quis ser alguém.

Eu hoje não acordei bem.
Depois da euforia do fim de semana,
regado a festa de cervejas, risadas,
tombos e gargalhadas
e ressaca por sono pouco
embalado em mais churrasco
com pessoas novas e calorosas
e risadas e crianças,
a solidão.

Eu hoje não acordei bem.
Flutuei um tempo e atinge o ápice,
do alto vi a vida que vivo,
do alto pude ver a vida que queria,
do alto pude ver que jamais teria
a vida que sempre pude ter.
Explodi feito uma bolha
que chega ao máximo do seu caminho
e morre sem motivo
explode sem deixar nada pra trás,
sequer lembrança do que foi.

Eu hoje não acordei bem,
e, sinceramente,
devo dormir assim também.

13 de dezembro de 2017

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Todos os versos e poemas

Todos os versos e poemas
que um dia eu poderia ter escrito
escritos estão.
Mas eu insisto.
Pois o cansaço é coisa do meu corpo
minha alma é leve e faceira
grita e planta bananeira
minha alma é como os dedos
que correm no teclado mudo
um tac tac tac
um silêncio cortado de emoções
minha alma é leve e faceira
e cada verso é todo o tempo
cada rima é vida inteira.

Todos os versos e poemas
que um dia eu poderia ter escrito
eu ainda os escreverei.

18 de dezembro de 2017