segunda-feira, 8 de julho de 2019

Desculpas

A minha vida tem sido, basicamente, pedir desculpas.

Desculpas por ter decepcionado os que esperavam tanto de mim.

Desculpas por não corresponder ao que queriam.

Desculpas por não ser capaz de atender ao que me pediam.

E, desde que me conheço por gente, venho me enchendo dessas pequenas decepções por ser decepcionante.

"Você é muito bonzinho, quer agradar todo mundo", disse, certa vez, um alguém que já não tenho na minha vida (muitos deixei de ter).

Talvez eu seja muito bonzinho.

Talvez eu tenha atendido demais aos pedidos alheios e nunca aos meus.

Veem-me como o resolvedor de tudo. O sabe-tudo, o precisa-entender-de-tudo-para-explicar. Eu fui me tornando isso por querer sempre ser o que esperavam que eu fosse. Por querer sempre ajudar no que precisassem. Por querer sempre entender mais do que eu realmente necessitava para viver.


Quanto trabalho já fiz e não tenho um puto de dinheiro no bolso?
Quanto eu já trabalhei e não consegui poupar, acostumado a migalhas?
Quanto do que eu quero eles sabem que eu é o que eu quero?
Quando eu conseguirei ter voz?
Quando eu conseguirei ser eu?

Só quando eu decepciono.

Só quando não eu não correspondo.

Só quando eu não atendo.

E depois eu sempre acabo pedindo desculpas.

Perdoem-me por esse desabafo sem hora.

06 de julho de 2019

quinta-feira, 4 de julho de 2019

VAR

Quarenta e seis do segundo tempo. Jogo empatado. O Jaculejo classificando. A torcida ensaiando uma comemoração. Sacuri pressionando. Unhas são destruídas sem dó, sem pensar.

Quarenta e seis e trinta, 30 segundos pro fim, bola na área, cabeçada, trave, a zaga tenta tirar, bate e rebate, Paulão chuta... Gol!

Explosão de alegria de um lado. A torcida do Sacuri grita, vibra, comemora, o time classificado com o gol marcado. Os acréscimos já vencidos. O juiz vai colocar a bola no centro do campo e apitar o fim. A glória. Do outro lado, a tristeza, o lamento de quem estava com a classificação nas mãos e a deixa cair. Mas do lado Sacurizal é só alegria... A aleg... Uma ale... Uma alegria que precisa se segurar. O árbitro leva a mão ao ouvido. Os jogadores do Jaculejo os cercam. Os atletas do Sacuri percebem a movimentação estranha. Tensão! O apitador faz um quadro com as mãos. Vai verificar na TV. O VAR entra em ação.

Tensão! Um silêncio cortante toma conta do estádio. As arquibancadas buscam o telão, que não mostra nada. O tempo para. Não passa. Corre veloz. O juizão leva o seu tempo. A relatividade. A eternidade. O estalar de dedos. O árbitro volta o corpo para o campo, pisa dentro das quatro linhas sagradas e aponta, falta antes da conclusão do lance, toque na mão do atacante, gol anulado.

A torcida do Jaculejo vibra, explosão de alegria, felicidade e sorrisos soltos. Do lado oposto, a cabisbaixice de quem era todo sorriso. A tristeza no olhar ainda molhado das lágrimas da classificação que se esvaiu. Duas torcidas, um lance, duas comemorações distintas, um único gol.

O futebol em plena justiça.