segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Majestade

Veja lá, no céu, o Sol, estrela brilhante,
nosso provedor, nosso poste de luz,
eternamente pendurado,
reluzente.

Veja lá no céu, que maravilha,
a festa de luzes, o calor que emana da fusão de elementos,
os raios que nos atingem feito bombas nucleares,
a vida que flerta com a morte.

Veja que lindo espetáculo,
a dança do Astro-Rei com os planetas que ele ignora,
avança, engole, um a um,
veja que espetáculo sem par
Vênus sendo devorado,
deflorado como a uma virgem em meio a uma orgia de famintos,
veja.

Veja o gigante pedaço dos restos mortais da deusa despedaçada,
lançado a velocidade incalculável,
percorrer o, agora aparente, curto caminho nos separa da extinção total.
Veja que belíssima explosão.
Veja e lembre disso.
Será a última coisa que veremos até o fim dos tempos.
O ser humano já não mais.

Logo o Sol morrerá,
mas quem foi rei, como diz o ditado,
jamais perde a majestade.
Nenhum ser humano foi rei de verdade.

17 de novembro de 2018

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Desconfiança

Quando juntou os seus em torno de si, não distribuiu armas e ódio para enfrentar o adversário. Incentivou o respeito e o amor, a tolerância e a paz.

Quando faltou o vinho para festejar, não fez discurso pomposo de que era preciso aprender com a escassez e poupar para ter no futuro. Foi lá, encheu os galões de água e transformou tudo em mais vinho, para a festa não parar.

Quando faltou comida, ele não distribuiu voucher, não ensinou as pessoas a pescarem, ou a produzirem pão. Foi lá, multiplicou e distribuiu.

Mesmo crucificado, encarando a morte e a traição, não pediu para que o Pai intercedesse com o extermínio dos seus inimigos. Pediu que seu Pai os perdoasse.

Desconfio seriamente que Jesus não era de extrema-direita.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Sinto falta da solidão

Sinto falta da solidão.
Estar só, comigo mesmo,
meus pensamentos,
meus demônios,
minhas dúvidas.

Sem ninguém para me aconselhar,
sem ninguém para me colocar pra cima,
sem ninguém precisando da minha ajuda,
sem ninguém necessitando de mim.

Sinto falta da solidão.
Do momento em que sou eu apenas,
sem ter de responder,
sem ter que conversar,
sem ter que cuidar.

Eu apenas, com tudo o que me faz eu,
e só.
Um caderno, talvez, canetas.
Várias músicas. Cerveja.
Em um lugar qualquer,
onde não haja ninguém,
onde ninguém possa me encontrar.

Sinto falta da solidão.
Mas talvez não seja isso.
Sinto falta de mim mesmo,
do que era pra mim e do que fui,
dos sonhos que tinha,
da vontade que possuía,
da esperança que perdi.

O que eu fui já está morto,
a vida muda, é preciso mudar.
O que poderia ser já não serei.
O que eu pensava de futuro morreu,
não sinto falta da solidão, eu sei,
sinto falta é de ser eu.

01 de novembro de 2018