sábado, 13 de abril de 2024

Deslocado

Não era o horário do trabalhador comum para aquela refeição. Passava das 9. Para ser mais preciso, já era quase 10.
A antiga fábrica de cerveja, transformada em um espaço para que moradores de áreas longínquas, encerrados em seus muros particulares, deslocassem pela cidade, com vistas à valorização imobiliária.
Gente que paga caro em um pão de queijo frio, que custa muito menos no posto a poucos metros de distância, onde, é servido quente.
Retratos de sorrisos falsos aos montes, que serão manipulados em aplicativos, para que possam ser exibidos pelos manipulados algoritmos. A falsa vida feliz de quem não faz ideia da vida de quem os serve.
Quem serve finge uma alegria que de tão verossímil, deixa transparecer a falsidade. O falso brilhante de que tanto falam.
“Um espaço de integração”, que visa integrar a mesma patota que se encontra em tantos outros espaços similares.
Ali sentado, sozinho por um momento, pensei em explodir, como um artefato terrorista, simplesmente explodir, para ver se alguma realidade seria estampada nos rostos recheados de botox.
Talvez eu não me sentisse tão deslocado.