O PHd é uma coluna quinzenal do blog onde expressarei todo o
meu profundo conhecimento superficial sobre coisas diversas que não domino (o
que basicamente se refere a tudo na vida), mas que quero comentar, com ares de
especialista.
A sigla deriva das possíveis razões sociais que a coluna pode ter, e você ajudará a escolher, votando AQUI.
Para estrear, ela, a estrela da hora: a Gastronomia.
PHd #1: Gastronomia
Não parece ser nenhum segredo que a gastronomia ganhou um
lugar de destaque no Brasil. Nos últimos anos, vários realities sobre o tema
tomaram os canais televisivos, com destaque para o Masterchef, na TV
Bandeirantes, além de outros tantos em canais pagos como TLC, H&H, etc.
Inúmeros cursos se espalharam, inclusive de nível superior. Virou a “última
moda” ser chef. Tenho, diante de tal
cenário, um certo receio, que inclusive é compartilhado por Jun Sakamoto, chef
considerado o melhor sushimen do Brasil. É o receio da frustração daqueles que
embarcam nesse mundo.
Explico-me.
A glamourização da posição de chef de cozinha esconde todo o histórico do cargo. Hoje as pessoas
buscam os cursos de gastronomia pensando em abrir o seu próprio restaurante, e
fazer sucesso, como os famosos dos programas televisivos. Isso é algo de
extremo perigo, pois pode tornar a profissão num similar a de jogador de
futebol. No campo, todos querem o estrelato de Messi, Neymar, Cristiano
Ronaldo, mas, quantos jogadores de futebol existem no mundo? Quantos alcançam a
fama? No Brasil, por exemplo, mais de 80% recebem menos de mil reais.[i]
Com o avançar da carreira, é possível que muitos desses aspirantes à estrela
acabem frustrados, mantendo-se na profissão para poder pagar as dívidas do
dia-a-dia, já que muitos optam por abandonar os estudos em busca do sonho do
estrelato.
No caso da gastronomia, penso que haja a possibilidade de
algo parecido acontecer.
Isso porque, como dito, o aspirante à chef não pensa nas
etapas que precisará percorrer, que são várias e desgastantes (é só assistir um
Chef Table’s da vida para notar). O aspirante a chef quer sair do seu curso e
abrir um D.O.M., ser apresentador de programa no TLC, ter seu nome no Guia
Michelin. Algo que pouquíssimos conseguem. E antes, esquecem que a posição de
chef é apenas um status de renome
para a profissão que efetivamente carregam: a de cozinheiro.
Não adianta querer ser chef sem se assumir cozinheiro em
primeiro lugar. Não adianta querer ser cozinheiro sem gostar de comer, antes de
tudo. E gostar de comer é gostar realmente de comer. Comer de tudo. Provar de
tudo. Se aventurar. Quantos dos que hoje ocupam as cadeiras de formação
gastronômica podem se dizer aventureiros da comilança? Quantos, de fato, gostam
de comer? Quantos, de fato, gostam de cozinhar? Jun Sakamoto, ao tratar do
assunto[ii],
diz que muitos dos que hoje encaram cursos de gastronomia o fazem visando o
empreendedorismo gastronômico. Na opinião do chef, esse que assim age deveria
estar em um curso de Administração de Empresas, e não num curso de gastronomia.
Ter o próprio restaurante é consequência da vivência dentro da cozinha. Muitos
chefs de calibre não possuem esse desejo. Preferem ser empregados, dedicam-se a
paixão que os levaram para frente do fogão: cozinhar!
Portanto, do alto do meu conhecimento sem par sobre a cena
gastronômica do país, concluo que, a se manter essa glamourização e essa busca
pelo empreendedorismo gastronômico, em contraste com a vontade, o desejo e o
amor pelo ato de cozinhar, ficaremos no limbo entre chefs e chefes, até descobrirmos como um “e” faz diferença na
cozinha.
[i] http://www.cbf.com.br/noticias/a-cbf/raio-x-do-futebol-salario-dos-jogadores#.WRf5DdQrLs0
[ii] http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2016/09/faculdades-de-gastronomia-sao-um-engodo-uma-mentira.html
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