segunda-feira, 22 de maio de 2017

PHd #1: Gastronomia

O PHd é uma coluna quinzenal do blog onde expressarei todo o meu profundo conhecimento superficial sobre coisas diversas que não domino (o que basicamente se refere a tudo na vida), mas que quero comentar, com ares de especialista.

A sigla deriva das possíveis razões sociais que a coluna pode ter, e você ajudará a escolher, votando AQUI.

Para estrear, ela, a estrela da hora: a Gastronomia.


PHd #1: Gastronomia

Não parece ser nenhum segredo que a gastronomia ganhou um lugar de destaque no Brasil. Nos últimos anos, vários realities sobre o tema tomaram os canais televisivos, com destaque para o Masterchef, na TV Bandeirantes, além de outros tantos em canais pagos como TLC, H&H, etc. Inúmeros cursos se espalharam, inclusive de nível superior. Virou a “última moda” ser chef. Tenho, diante de tal cenário, um certo receio, que inclusive é compartilhado por Jun Sakamoto, chef considerado o melhor sushimen do Brasil. É o receio da frustração daqueles que embarcam nesse mundo.

Explico-me.

A glamourização da posição de chef de cozinha esconde todo o histórico do cargo. Hoje as pessoas buscam os cursos de gastronomia pensando em abrir o seu próprio restaurante, e fazer sucesso, como os famosos dos programas televisivos. Isso é algo de extremo perigo, pois pode tornar a profissão num similar a de jogador de futebol. No campo, todos querem o estrelato de Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo, mas, quantos jogadores de futebol existem no mundo? Quantos alcançam a fama? No Brasil, por exemplo, mais de 80% recebem menos de mil reais.[i] Com o avançar da carreira, é possível que muitos desses aspirantes à estrela acabem frustrados, mantendo-se na profissão para poder pagar as dívidas do dia-a-dia, já que muitos optam por abandonar os estudos em busca do sonho do estrelato.

No caso da gastronomia, penso que haja a possibilidade de algo parecido acontecer.

Isso porque, como dito, o aspirante à chef não pensa nas etapas que precisará percorrer, que são várias e desgastantes (é só assistir um Chef Table’s da vida para notar). O aspirante a chef quer sair do seu curso e abrir um D.O.M., ser apresentador de programa no TLC, ter seu nome no Guia Michelin. Algo que pouquíssimos conseguem. E antes, esquecem que a posição de chef é apenas um status de renome para a profissão que efetivamente carregam: a de cozinheiro.

Não adianta querer ser chef sem se assumir cozinheiro em primeiro lugar. Não adianta querer ser cozinheiro sem gostar de comer, antes de tudo. E gostar de comer é gostar realmente de comer. Comer de tudo. Provar de tudo. Se aventurar. Quantos dos que hoje ocupam as cadeiras de formação gastronômica podem se dizer aventureiros da comilança? Quantos, de fato, gostam de comer? Quantos, de fato, gostam de cozinhar? Jun Sakamoto, ao tratar do assunto[ii], diz que muitos dos que hoje encaram cursos de gastronomia o fazem visando o empreendedorismo gastronômico. Na opinião do chef, esse que assim age deveria estar em um curso de Administração de Empresas, e não num curso de gastronomia. Ter o próprio restaurante é consequência da vivência dentro da cozinha. Muitos chefs de calibre não possuem esse desejo. Preferem ser empregados, dedicam-se a paixão que os levaram para frente do fogão: cozinhar!

Portanto, do alto do meu conhecimento sem par sobre a cena gastronômica do país, concluo que, a se manter essa glamourização e essa busca pelo empreendedorismo gastronômico, em contraste com a vontade, o desejo e o amor pelo ato de cozinhar, ficaremos no limbo entre chefs e chefes, até descobrirmos como um “e” faz diferença na cozinha.


[i] http://www.cbf.com.br/noticias/a-cbf/raio-x-do-futebol-salario-dos-jogadores#.WRf5DdQrLs0
[ii] http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2016/09/faculdades-de-gastronomia-sao-um-engodo-uma-mentira.html

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