Ela desfilava entre as nuvens,
insinuando-se aos meus instintos mais febris,
e eu era um refém do seu vai e volta,
ora aqui, ora ali,
surgindo, ressurgindo,
escondendo-se entre as trevas de minhas angústias,
brincando com meus desejos,
fazendo-me seu,
como jamais fui de ninguém,
nem de mim.
Em meus sonhos,
escondia-se entre reflexos disfarçados
a observar-me de longe,
distante,
dominando sem que eu me desse conta,
mostrando um pedaço aqui,
outro ali,
sem me deixar saber ser ela no todo.
E quando se mostrava sublime,
plena, sem vergonha
surgindo radiante da escuridão de meu desespero,
o corpo, em reação animal,
explodia em êxtase e fúria
e eram corpos e saliva e sangue
e fome sem mais ter fim,
até o dia amanhecer,
até ela desaparecer.
Então perdido no mundo, de pele nua,
ainda coberto de sangue de minhas vítimas,
uivava solitário à minha amada Lua.
23 de abril de 2017
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