Ouço vozes que me chamam dia e noite
e não as obedeço.
Ignoro os gritos que me rompem de açoite
e não os reconheço.
Não sei quem sou em meio a eles.
Talvez os seja todos.
Talvez não seja eu ninguém,
apenas eles que são.
Vejo vultos que me tocam e fogem.
Escondem-se entre as sombras do que não posso ver.
Os sinto aqui e ali.
Percebo-os nos cantos dos armários,
nos fundos das casas,
nos pensamentos.
Escrevo em versos e prosa
o que as vozes me sopram por entre os ventos,
sem que as ouça.
Ignoro o que ouço.
Escrevo.
Desobedeço o que pedem.
Escrevo.
Não reconheço seus rostos.
Escrevo.
Talvez um dia eu descubra
que tudo o que fui como poeta,
em verdade,
foram eles,
elas,
não sei.
Essas vozes que me gritam mudas
e viram letras mortas
na minha mão quase paralisada.
29 de março de 2017
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