quinta-feira, 6 de abril de 2017

Extraordinariamente

Era uma vez, num pedaço comum de um país comum, em uma comunidade comum, um bebê comum, que nasceu de forma comum, filho de pais comuns e recebeu um nome comum.
Cresceu como crescem as pessoas comuns, sem muita novidade, viveu uma infância comum, uma adolescência com altos e baixos, como um adolescente comum, foi trabalhar num trabalho comum, recebendo trabalho comum, vivendo sua vida comum até que...
Num happy hour comum, com seus amigos comum, conheceu uma pessoa fora do comum, excepcional. Essa pessoa, de maneira incomum, acabou se apaixonando pelo seu jeito de ser comum. E beijaram-se de forma maravilhosamente extraordinária, trocaram telefones e marcaram de se ver novamente. No fim da noite, cada um foi para seu lado. Ele para o seu carro comum, pegou o caminho comum. Dormiu em sua cama comum.
A pessoa extraordinária foi colocou seu capacete incomum, acelerou sua motocicleta excepcionalmente veloz, e partiu como um raio. No cruzamento de uma avenida, não notou o caminhão de lixo que cruzava sem ligar para o sinal vermelho. Chocou-se. O corpo arremessado de maneira assustadoramente incomum foi parar dezenas de metro distante do local do choque. No voo, viu toda a sua vida incrível passar diante de seus olhos peculiares, sendo apagado pelo choque com o solo. O motorista do caminhão fugiu. E a pessoa, outrora extraordinária, foi recolhida, horas depois, num carro comum do IML, sua morte registrada em uma certidão comum. Foi enterrada em terra marrom, comum, apesar da construção macabramente espetacular do jazigo.
Quando acordou, no dia seguinte, uma ressaca incomum tomou seu corpo comum, na sua casa comum. Sentia que havia se esquecido de algo, mas, não recordava de nada das últimas 12 horas. Algo de incomum estava naquelas bebidas. Olhou o relógio: 8 horas. Lembrou-se do domingo que se abria lá fora das cortinas, fechou-as, virou para o lado e fechou os olhos.
Dormir era o que mais de incomum fazia aos domingos, comparado ao dia seguinte que viria: uma mais segunda-feira comum.
Mas, sabia que estava se esquecendo de algo. Só não lembrava o quê. Adormeceu.

04 de abril de 2017

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