Temer é golpista!
Lula é ladrão!
Aécio safado!
Moro herói!
Bolsonaro mito!
Eis os gritos de guerra das torcidas organizadas pelo país.
O Brasil hoje é um país que não sabe conviver com opiniões
divergentes. Penso até que nunca soube. Mas os tempos de hoje nos permitem
colocar os nossos demônios expostos ao sol.
Todo mundo quer provar (impor) seu ponto de vista, ao invés
de abrir espaço para o diálogo. E, note, o ponto de vista que se quer impor raramente
é o próprio ponto de vista, mas, sim, o de alguém que se idolatra e se adota
como “salvador da pátria”. É assim, como sempre foi em nossa história.
Dizem que o brasileiro é um povo pacífico. Equívoco! Não
guerreamos por aí por falta de oportunidade (e material). Mas, internamente,
matamo-nos, sufocamo-nos e vamos vivendo, fingindo que tudo é lindo, que somos
abençoados por deus, etc etc etc. E aí vem o carnaval. O brasileiro é um povo
passivo. Sim, passivo. Ficamos esperando a mágica cair do céu. Esperamos o
salvador da pátria. Votamos e deixamos o problema os eleitos, sem nos darmos
conta que o problema é de todos nós.
Dessa forma, fomos criando caciques, políticos profissionais
que de quatro em quatro anos se nos mostram como salvadores da pátria e vão se
perpetuando no poder, enchendo seus bolsos, enquanto daqui de baixo, assistimos
silenciosamente o caos se instaurando. De vez em quando lembramos de reclamar,
botamos fogo nuns pneus aqui, fazemos uma passeata com camisa de Confederação
corrupta ali, colocamos a culpa no outro, no que votou no partido X, e não no
nosso partido Y. E vamos nos digladiando para o deleite daqueles que, do alto,
aguardam o quadriênio para reaparecer com as mágicas salvadoras.
Dessa forma, vamos vendo o patrimônio público ser
dilapidado, pouco a pouco, às vezes nem tão pouco a pouco assim. Achamos que só
roubam os políticos que desviam verba pública e não nos damos conta que o
ônibus depredado, as carteiras da escola quebradas e pichadas, os fios de cobre
da iluminação pública furtados, tudo isso é também um roubo contra o patrimônio
público, justamente por ser, tudo isso, PÚBLICO!
Com a nossa passividade, deixamos à míngua a noção do que é
público, e quem bem sabe distinguir o público do privado, aqueles mesmos
caciques que deixamos como salvadores da pátria, aos poucos vão fazendo do
primeiro o segundo e se apoderando de tudo.
E então vêm à tona os grandes escândalos de corrupção.
Milhões, bilhões desviados de forma fraudulenta a encher os bolsos, cuecas,
mochilas, cofres e contas no exterior daqueles que deveriam estar legislando e
trabalhando em prol da sociedade. Mas, como a sociedade não está nem aí, vão
ajeitando as coisas para si e para os seus próximos.
Muitas vezes esses próximos são os primeiros a sair em
defesa dos “atacados pela mídia” e esbravejam contra todos os que falam mal dos
seus queridos caciques. Vai se criando a lógica do “nós x eles”, onde nós,
somente nós, somos os detentores das verdades universais e eles são meros
ignorantes, que deveriam ser calados. E ainda continuamos, “nós”, a sermos os
defensores da democracia, dos direitos humanos, etc etc etc, tudo, é claro, de
forma relativizada. Direitos pra todos, mas, não igualmente.
No atual cenário é nítida essa lógica do “nós x eles”,
consistindo em vagas alegações que tentam demonstrar que “nós” somos menos
bandidos que “eles”, sem que ninguém, de forma alguma, assuma seus erros. Sem
que se possa, de alguma forma, vislumbrar a abertura da uma janela para o
diálogo.
E vamos tocando em frente, até que todos possam ter armas em
punho e o direito de atirar em quem nos contraria.
O futuro é logo ali.
18 de abril de 2017.
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