quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Acidente

E estou aqui com ela
que dorme ali do outro lado
no colchão de lá,
minutos depois de anunciar
que já iria dormir.

Minhas costas reclamam posição,
meu pescoço reclama posição,
a minha alma custa a encontrar lugar
no corpo em que habito e insisto.
Eu não consigo dormir.

Viro de um lado a outro,
misturo travesseiros,
rolinhos e almofadas,
passo o pé nos duzentos fios do lençol,
tento.

Uma freada. Uma batida seca.
Lá fora as luzes insistem em não se apagarem.
A noite é já e a claridade invade a sala
onde os colchões recebem os corpos cansados.
Ela dorme. Eu procuro entender.

Uma sirene. Vou a sacada. Tento entender.
Outra sirene. Estico a cabeça fora da grade,
vejo luzes, sirenes ecoam.
Volto a deitar. Mais sirenes.
O que há? O que aconteceu?
Procuro sem sucesso.
As luzes brilham longe.
Minha câmera não alcança,
fotos sem nitidez.
Procuro sem sucesso.
Vou tentar dormir.

No dia seguinte apenas uma nota genérica
sobre o acidente na Presidente Vargas,
uma morte.
E nenhuma menção a minha insônia
e às especulações da minha mente doentia
sobre o que fora aquela freada seguida de batida
e luzes na madrugada de um domingo.
Mas nem foi por isso que eu não consegui dormir.

02 de agosto de 2018

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