quinta-feira, 19 de julho de 2018

A última foda

Outro dia estava conversando com conhecidos (conhecidos porque, de um dado momento para os atuais eu notei que chamava de amigo quem já tinha sido há muito, ou nem mesmo foi, e notei que os amigos me faltam, como faltam-me saldos positivos nos três cartões de créditos cujas faturas me machucam mês a mês). Bem, estava com esses conhecidos, na festa de aniversário de um deles que nos reuniu num bar, e, versando sobre minha afetada vida sexual daquele momento, percebi que a grande maioria dos conhecidos do sexo feminino me achavam um grande possuidor de fêmeas. Era incrível, eu que tinha tido poucas experiências sexuais, apesar de saber falar muito bem sobre o assunto (leitura é algo que sempre prezei), era visto com um ás do sexo. Invejei a imagem que eu passava. Ao menos a imagem de bêbado eu achava que fazia jus.
Das poucas experiências sexuais que tive, não, deixei-me corrigir. Das poucas mulheres com as quais tive contato considerado sexual, de uma forma ou de outra, várias foram as situações sui generis.
A virgindade perdida no trabalho de meu pai com uma funcionária recém-contratada da empresa (que descobri depois ser a filha do chefe), a broxada seguida de um copo de leite morno (tinha no cardápio do motel) que me custara mais de quatrocentas pratas, até mesmo a quase enrabada com um dildo monstruoso, três vezes maior que meu pau (possivelmente quatro) quando topei uma festinha com uma amiga lésbica (nunca tentem festinhas com lésbicas, prefiram as bissexuais ou as afetadas), cada experiência era única e foram únicas. Eu sei, eu sei, as pessoas citadas acima acham que isso era rotina na minha vida, talvez eu seja um exímio contador de histórias.
Mas, hoje, enquanto cagava lendo uma entrevista com um famoso jogador de futebol que descobrira um câncer fatal e que havia solicitado a suspensão do seu tratamento para poder disputar o último jogo da sua carreira, um clássico local. Comecei então a pensar como seria saber a hora da morte. Daí minha cabeça pervertida me levou a sexo, o que me parece bem estranho agora, considerando que coisas saiam do meu cu, alargando-o. Bem, fato é que comecei a pensar como seria a experiência do último sexo consciente.
Minhas últimas trepadas haviam tido uma elevada dose emocional. Eu tenho andado bastante emotivo nos últimos anos, tenho até evitado beber para não exacerbar ainda mais essa emotividade (e tenho falhado bastante nisso). E fiquei martelando isso enquanto borrava o papel higiênico branquinho e dava a descarga. Lavei as mãos e me dirigi a cama, onde deitei dúvidas eram disparadas como uma metralhadora sem controle.
Como seria a última foda da vida, sabendo-se aquela a última? O sexo teria o mesmo gosto? A buceta se tornaria um órgão ainda mais mágico do que já é? O pau entristeceria pelo fim sabido ou se desdobraria em artimanhas para aproveitar a última alegria? O orgasmo viria rápido? Seria prolongado até a última hora? Haveria choro após o gozo? E a quantidade de porra? Dependeria da causa mortis as reações? Haveria choro? Experimentar algo novo ou ficar no que já se conhece para evitar erros? Preliminares longas ou sexo curto e grosso? Quem escolher? Uma mulher qualquer que não saiba de ti? Alguém do passado? Haveria choro?
Dormi ainda em meio ao tiroteio e acordei com os pensamentos ainda frescos na memória. Tomei um banho rápido, um café preto com um pedaço de pão amanhecido e saí.
Contei isso para minha mãe, em seu túmulo. Mamãe morrera havia dois anos. Nada disse após o fim dos devaneios. Estivesse viva, provavelmente, teria me mandado tomar no cu.

04 de setembro de 2015

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