segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A altura que os olhos não enxergam

A meu pai, Carlos Roberto Celani, in memorian


Ele era alto, pernas compridas,
eu o via de baixo, altivo, soberano,
o colosso a me acompanhar em passos curtos
como eram os meus passos até ali.

Com o tempo fui me dando conta,
aos poucos, tempo a tempo,
de que ele não era tão alto assim,
os passos curtos foram se igualando aos meus passos curtos,
e então passamos a andar lado a lado.

Sempre de mãos dadas, abraços calorosos,
desmonstração pública de carinho e afeto,
as brigas ficavam em segredo,
como se soubessemos que não poderíamos nos dar ao luxo
de exibirmos contradições aos que nos viam.

Lado a lado caminhamos a maior parte da caminhada,
até que ele parou um dia, já cansado,
recostou-se em uma cadeira que estava por ali
e deixou-se adormecer para sempre.
Lado a lado ainda permaneci
enquanto os outros se despediam do corpo
que só guardava a imagem dele,
a última imagem dele.

O corpo se foi. Ele se foi,
mas não completamente.
A morte leva a presença física,
mas nunca as lembranças de quem fica.

Hoje, passados cinco anos do nosso último dia,
eu sei que ele não era alto como via quando criança
mas sempre foi bem mais alto
do que eu jamais poderia enxergar
estando de mão dada ao seu dedo,
no caminhar lento de um pai e de um filho.

E cada dia que passa ele fica maior,
como fica a saudade que dele jamais poderei matar.

12 de janeiro de 2018

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