segunda-feira, 3 de julho de 2017

Novos deuses

Os deuses antigos atravessaram o Atlântico,
vieram com suas caravelas, seus barcos,
seus milhares de homens perdidos,
suas más intenções de conquistas,
e seus desconhecimentos sobre o mundo todo.

Pensavam que o mundo era a Europa,
pensavam que o além-mar pertencia ao fim.
Todos poderosos deuses
que não conheciam o mundo onde nasceram,
o mundo que diziam ter criado.

Na América saquearam, roubaram,
mataram, torturaram,
tudo para se estabelecer como salvadores,
e assim se fizeram.

Por um tempo.

Logo a América mostrou o seu espírito
e esse espírito mostrou não saber dividir o terreno.
Partiram para o contra-ataque.
Invadiram as mentes dos crentes,
dos céticos, de cada um dos humanos
que caminhavam sobre a terra banhada de sangue.
E de sangue serviram cada um dos humanos
que pediam por isso.

Criaram necessidades.
Venderam essas necessidades.
Dividiram e conquistaram,
conforme manda o manual.
E conquistaram mentes e corações.

Deram sonhos, como os deuses antigos.
Deram razões, como os deuses antigos.
E os tiraram.
Aos poucos,
sem que notassem os humanos.
Exatamente como fizeram os deuses antigo.

Fizeram o homem ir mais rápido, mais veloz,
fizeram o homem mais forte, mais potente,
curaram dores e doenças em minutos,
possibilitaram a transcendência,
permitiram aos humanos se enxergarem deuses.

Levaram aos céus,
à Lua,
à Marte e mais além.

Invadiram lares,
pedindo licença,
e se estabeleceram.
Primeiro na sala.
Depois quartos,
cozinha, banheiro,
cada momento,
sempre em contato,
em grandes, gigantescas, médias e pequenas telas,
em áudio, em três dimensões,
com todos os cheiros e gostos,
com todos os nomes.

Deus está morto, disse Niezstche,
preconizando uma era que não viveu.
Os deuses morreram.
Seus seguidores voltaram seus olhos,
abraçaram os novos deuses
que erigiram seu império desde a América
para todo o mundo.
Sem precisar criar qualquer ser,
sem precisar criar qualquer mundo,
tomaram o mundo que aí estava
e fizeram seu reino.

Os novos deuses estão entre nós
e são todo poder,
sem bondade.

30 de junho de 2017


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