segunda-feira, 10 de julho de 2017

À meia luz

Muitas vezes
era apenas a luz
de uma luminária barata,
colocada do lado da cama
para jogar luz sobre a folha em branco,
enquanto a caneta ia preenchendo de vida o vazio.

Outras vezes
era apenas a luminosidade
da tela em branco,
de um arquivo novo,
em um programa qualquer
de edição de texto,
onde os caracteres pretos,
que vinham seguidos do traço intermitente vertical,
iam criando personagens,
contando histórias,
falseando sentimentos
e detalhando-os verdadeiros,
como se fossem o que não são,
mesmo sendo.

Muitas vezes
a falta dessa luz mínima
matava no nascedouro
diversos seres imaginários.

Muitas vezes o cansaço
e a preguiça até o faziam.

Muitas vezes
a falta de um lápis,
uma caneta,
um instrumento hábil qualquer
que pudesse dar vazão aos demônios
que gritavam
e queriam ser ouvidos.

Muitas vezes
nem um nem outro,
o silêncio apenas.
Muitas vezes.

Descrever o mundo em que vivo,
o meu mundo,
dentro em mim,
com meus todos eus e os demais,
eis o que faço nas sombras.

07 de julho de 2017

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