quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Eu tô puto!

Olha, de verdade, perdoem-me meu francês, mas eu tô puto! Culpa desse segundo turno que se apresenta.

Sinceramente, seja qual for o vencedor, quem perde é o Brasil. Serão mais quatro anos de uma polarização que fica empurrando o Brasil num pêndulo de um lado pro outro, de um lado pro outro e continuaremos estagnados, sem nenhum passo a frente.

Mas isso já é de praxe na política brasileira. Quando o partido dito de esquerda assume o governo, enchendo de esperanças os seus seguidores e apoiadores, logo faz conchavos e acordos para se estabelecer no poder. Os partidos de direita tendem sempre a pautar suas políticas pela lógica do mercado, como se o mercado já tivesse, de fato, resolvido os problemas de qualquer país que seja. De tão acostumado a não mais esperar nada, eu apenas sigo.

Mas eu tô realmente puto por termos que escolher entre dois candidatos que, se a gente parar para reparar bem a fundo, acabam se equivalendo.

Um é um porra louca, fala pelos cotovelos, fala muita merda, possivelmente levando a sério o ditado de quinta série que diz que “é falando merda que se aduba a vida”, e depois tenta se corrigir, rindo espalhafatoso. Como um bufão, tentando agradar a sua plateia. É triste ver isso.

O outro possui a polidez da academia, mas não se arrisca a dar um passo sequer pelas próprias pernas, sempre indo à cela do seu mentor para descobrir o rumo seguinte a ser tomado. E dispara a falar merda, tudo para defender o seu superior, sem abrir margem para uma mea-culpa dos erros que seu partido cometeu e que deixou tanta gente enfurecida. É triste ter que assistir a isso.

O que mais me deixa puto nisso tudo é que ambos, cada um com o seu motivo, ainda não me convenceram da existência de propostas sérias para o Brasil. O polido, recentemente, até voltou atrás de uma ideia radical, para tentar atrair apoio do centro. O porra louca não fala, não deixa falar, e vai deixando com que falem por ele, façam por ele, mas depois não assume a culpa de nada o que acontece.

Quando o porra louca navegava ali na sua marolinha de 20% de intenção, eu lia colunistas, jornalistas, velhos senhores e senhoras de bastante vivência na grande mídia dizendo-se assustados com o tanto de apoiadores que as ideias radicais tinham entre a sociedade. Foi-me triste ler e ouvir esse tipo de comentário, que demonstra uma total desconexão do jornalismo com a realidade do país. Sim, até ali, na casa dos seus 20%, eu acreditava que, de fato, aqueles eram eleitores que tinham ideias como a do candidato porra louca. Mas o crescimento, dito por alguns como baseado em uma rejeição ao partido do candidato marionete, mostrado com o encerramento das urnas do primeiro turno, esse me assustou.

E me assustou não tanto pela mensagem transmitida pelo candidato dos “L’s” deitados invertidos (se opondo ao campo adversário, do L em pé). Sabe quando você só espera o pior e vai só se preparando para ele? Pois bem. O acirramento dos ânimos, a crescente onda “conservadora”, e aqui coloco entre aspas porque se formos analisar os eleitos no Legislativo com essa plataforma dita conservadora, veremos que conservadorismo é o que menos existe ali, isso tudo eu já esperava. Só que eu sou uma pessoa que fica absorta durante o período eleitoral. Eu passei horas e horas assistindo debates, sabatinas, entrevistas, lendo planos de governo, lendo material de propaganda política, quase joguei por terra o aniversário de 5 anos de namoro, completados no dia da eleição, para chegar ao fim do primeiro turno e ver, como líder, um candidato que não falou absolutamente nada em termos de propostas reais para o país. E não é um país onde tudo está às mil maravilhas! É um país à beira do colapso. A economia em frangalhos, reformas que precisam ser feitas e o discurso do líder do primeiro turno é arma de dedinho e o antilulopetismo. E só!

Não se recupera um país com o comércio de armas. Há outros comércios mais urgentes na lista das urgências. É preciso educação de qualidade, e não essa cujas escolas parecem cada vez mais com presídios (estruturalmente já são quase idênticos), nas quais os professores não são respeitados, vivendo diariamente o medo de serem atacados (carcereiros?); nas quais o tráfico seduz muito mais pela possibilidade do dinheiro rápido e de um certo status de poder (lembra um outro tipo de prédio); nas quais se entra só para passar o tempo necessário, com salas de aulas abarrotadas, para políticos encherem a boca ao dizer que 100% das crianças estão na escola (superlotação também tem em outros lugares aí).

O Brasil votou com o ódio, e mandou para o segundo turno as duas faces desse ódio. E por favor, parem de chamar de fascista toda e qualquer pessoa que não concorda com o que você diz. Nós conseguimos a façanha de banalizar o fascismo. Possivelmente é a palavra que mais leio nos meus dias últimos.

Não me venham dizer que o marionete vai fazer diferente do que já fizeram. Em 13 anos de mandato executivo você não tem o direito de fazer nada menos que aquilo que esperam os seus concidadãos. Você não tem o direito fazer pacto com o capeta e depois choramingar a alma perdida. Você não tem o direito de bater no peito prometendo mundos e fundos para a resolução dos problemas, se tudo o que pautou a sua atuação foi a manutenção do poder, dando crédito fácil a quem não tinha sequer noção de como se calcula juros simples.

Eu tô muito puto.

E não me venham dizer que o porra louca representa algo novo. Com quase 30 anos de mandatos, você tem tempo o bastante para fazer o novo, e não ser mais um encostado, recebendo votos da classe que diz representar, mas que, no seu estado, sofre as mazelas de ter que enfrentar o narcotráfico sem qualquer guarida dos seus governantes. Com 30 anos de mandato, votando projetos de todo tipo (orçamento, inclusive), você não tem o direito de sair propagando, aos risos, que não sabe nada de economia, mas que por isso você chama o seu assessor, usando o nome de uma rede de postos que ganhou publicidade gratuita (ou não, né?!) por meses seguidos. Você não tem o direito de passar uma campanha inteira sem dar qualquer explicação mais prática do que pretende fazer no governo.

Então lá vamos nós para um segundo turno cujo voto será definido pela rejeição, e só. Segundo turno que terá, a se confirmar as pesquisas, e seguindo-se a recomendação médica (que não deve, em hipótese alguma, ser desobedecida, visando a plena recuperação), um candidato que não confronta suas ideias (até por parecer, a se comentar o seu “plano de governo, possuir apenas intenções) com adversários e de quem não saberemos nenhuma proposta sólida para o enfrentamento dos reais problemas do país, para além de armas nas mãos da população de bem, que anda se odiando em cada esquina.

E eu tô muito puto por isso.

A eleição vai acabar. O Brasil vai ter que caminhar. As coisas tendem a piorar. Eu só espero que o vencedor amenize o discurso. Arrefeça os ânimos dos seus seguidores mais cegos e acéfalos. E que tentem passar pelos próximos anos sem maiores desastres.

Mas eu vou continuar puto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário