segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Eu que sempre fui jovem

baseado em Tempos Perdidos, da Legião Urbana.


Mais um dia. Acordei. A cabeça doendo. O tempo passou depressa nas horas poucas que pude dormir. A boca seca. O que aconteceu noite passada? O que foi que eu fiz, de novo? Fico pensando enquanto escovo os dentes. A barriga reclama um conforto, sento no vaso de escova na boca. O que foi que eu bebi? O que foi que eu comi? A cama me chegou rápido demais. Rápido demais tive que sair dela.

Ainda há dia demais até a noite. Ainda há coisas demais até o descanso. E toda noite é uma reflexão sem futuro. Eu me esqueço do que me prometo de bom. Eu só faço o que não consigo evitar. Eu só faço merda e sigo em frente. Não há tempo a perder. Só dinheiro. Só vida.

O café me desce amargo no escritório. O suor escorre pelo rosto. A secura na boca. O incômodo. Um dia outro de ressaca. E a vida levada a sério, depois de tanta comédia, de tanta despreocupação. Eu vou vivendo.

O sol desatina as retinas ressacadas. Eu uso meus óculos, eu nem sempre os usei, mas as vistas não me deixam enxergar com clareza. E tudo fica anuveado. Embaçado. Eu só preciso de um abraço. De um conselho. Eu me sinto só. Eu me sinto perdido.

Sigo a vida no ritmo que não é o meu, é o que a vida me impôs.

Contam fábulas, casos, fatos, e eu preciso transformar tudo em uma história que possam engolir e absolver. Sim, absolver, não absorver. A mentira absorvida é amarga, revela a verdade. A verdade nem sempre me favorece.

O dia passa, as horas passam, eu me perco em meio a olhares, olás, sorrisos falsos, vontade falsa. Eu só preciso de um drink, ou dois, ou três e a minha cama. Eu preciso da solidão, apesar de não saber viver só.

As luzes se apagam, o dia se vai, eu só queria uma luz acesa, para ter a certeza de um norte a seguir. Não há.

E eu que sempre achei que fosse jovem demais, vejo-me já de cabelos grisalhos, pensando em quanto tempo ainda me falta.

06 de novembro de 2017

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