segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Acordou

Roncava alto, sem se dar conta. Acordou com a baba lavando o chão onde a sua cara amassada repousava da ressaca que viria.

Levantou-se dificultoso. A cueca manchada de amarelo. Coçou a bunda, a barba, o saco, cheirou. O estômago reclamava a falta do que comer.

Foi até a cozinha, como na sala, sujeita para todo lado, abriu a geladeira, alcançou uma lata de cerveja, um pedaço esquecido de pão com algum recheio, voltou ao sofá.

Ligou a TV, encarou a bagunça que o cercava, lembrou da ordem de sua mãe para que deixasse tudo organizado enquanto estava fora. Não respeitou.

Ouviu qualquer sussurro do lado de fora, foi ver o que era. Um desfile, parecia, olhando de cima, bem de cima onde estava. Lá embaixo todos parecia formigas, carregavam cartazer, acompanhados por pequenos carros com músicas estranhas, gritos abafados, carnaval fora de época?, pensou. Voltou pra TV.

Sentou-se. Voltou a cozinha para mais cerveja, três latas, encheu sua caneca, bebeu, bebeu, até esvaziar o estoque refrigerado.

Coçou o saco, adormeceu com a mão dentro da cueca azeda. Voltou a dormir no sofá, como se nada estivesse acontecendo.

Eis um dia na vida do gigante, que acordou, brevemente, para poder se embebedar e voltar a dormir.


07 de novembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário