segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Tá pegando fogo, bicho!

Era uma vez, em um tempo distante, um país que, depois de passar por anos e anos em meio a censura ditatorial, resolveu que seria bacana entrar de cabeça na democracia. E obrigou todos os seus cidadãos a participarem dessa grande festa.

E os cidadãos participaram. Uns meio a contragosto. Outros cheios de esperança. E logo a esperança se foi, o medo tomou conta. Até que um pré-hipster (que tem barba grande e ainda não desenvolveu o coque) devolveu a esperança a todos, com seu discurso meio lá meio cá, e foi eleito nos braços do povo. E reeleito no braço mais direito que esquerdo do povo.

O povo embebedado e maravilhado com tudo o que pode comprar nos anos do governo do pré-hipster, elegeu a sua sucessora sem sal e açúcar e continuaram marinando nas ondas do consumo barato. Nas eleições seguintes, o país que vivia num sonho pulverizado de leite ninho e recheado de nutella, passou a entrar em conflitos cada vez mais comuns. Já não era mais o país do café com leite. Agora leiteiros e cafeicultores se digladiavam em busca do domínio do fato. Nesse contexto, democraticamente, a sucessora sucedeu-se a si própria, prometendo o que não poderia e não conseguiria e não cumpriria logo após a posse.

Seguiu-se a divisão entre café e leite. Eles já não se misturavam. Curiosamente, dentro do café as divisões pulverizavam, e descafeinados passaram a rejeitar os cafeinados. Veio o impeachment, e os descafeinados se aliaram aos leiteiros para formar um governo sem muita energia.

A falta de energia logo ficou evidente com a queda de vários ministros, denúncias contra o presidente descafeinado (que é bom deixar claro, foi escolhido como vice – e eleito democraticamente também – pelo partido da cafeína por questões eleitoreiras – e que não podem sair se lamentando) e crise seguida de crise. O governo sem cafeína ficava, por óbvio, cada dia mais e mais insustentável.

Enquanto isso, os extremos se dividiam nas redes sociais, xingavam-se, humilhavam-se. Uns criticavam exposições com temas de outros. Outros censuravam manifestações de uns. E eliminavam-se uns aos outros, aos poucos. E uns criticavam, com outros, a não manifestação dos isentões, o centrão.

E seguiam-se conflitos violentos nas redes sociais. Bloqueios. Invasões. Xingamentos. Rts. Haters. Compartilha mais que o outro. “Senta o like”. Etc. Etc. Etc.

Quando saiam do virtual, a coisa ficava séria. E descafeinados provocavam cafeinados. E cafeinados provocavam descafeinados. E ninguém sabia quem era o provocador e o provocado.

Curiosamente, os que, pretensamente, eram de esquerda, acabavam entrando em conflito com os agentes públicos de segurança, mesmo sendo ferrenhos defensores do Estado total. Já os de direita, liberais, defensores do Estado mínimo, escondiam-se atrás dos escudos de CHOQUE do aparato estatal de segurança.

E quando lançaram o desafio para que, finalmente, direita e esquerda se digladiassem, como outrora, em uma arena, numa batalha até a morte, para saber quem, de fato, era o mais forte, nunca, na história desse país, o centrão se viu tão fortalecido.

E o torneio foi cancelado, por falta de participantes.

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