segunda-feira, 6 de março de 2017

Odeio telefone



- Eu odeio telefone.

Ela se assustou. Estávamos conversando alegremente havia alguns minutos, embora o som do bar atrapalhasse o entendimento de algumas palavras. Era só sorrisos e pediu meu número, já que meu smartphone repousava sossegado sobre o balcão.

- Não o aparelho em si, aliás, o sistema todo eu considero das melhores invenções, afinal, possibilitou a invenção da internet e suas maravilhas. Mas é que eu não sou bom de improviso e nunca se sabe o que se dirá ao telefone. Eu nem mesmo sei o que se deve dizer ao atender. Alô? Pronto? Pois não?

Ela sorria docemente, talvez tentando disfarçar o estranhamento.

- Cancelar serviços ou pedir informações me é uma tortura só. Eu fico passando e repassando pela cabeça tudo o que preciso falar, tentando prever as respostas do atendente para ensaiar cada passo. E quando algo sai do roteiro, eu travo. Desligo. Odeio telefone.

- É, parece que você não gosta mesmo.

Disse isso e tomou um gole da sua Coca com rum, deixando uma gota escorrer pela boca, aparando-a com o a ponta dos dedos, quando já no queixo.

- Mas, eu gosto de escrever. E gosto de conversar pessoalmente. Por mais contraditório que isso pareça.

Ela sorvia mais um gole de sua bebida enquanto dizia:

- Ah, você é uma pessoa visual, precisa ver a reação da pessoa com quem fala para continuar a conversa de forma mais fluente. Eu até te entendo.

Sorri. Era a primeira vez que diziam isso sobre mim e eu estava pronto para concordar.

Pagamos a conta e fui com ela para sua casa, no carro dela, porque eu odeio dirigir.

03 de março de 2017

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