- Eu odeio telefone.
Ela se assustou. Estávamos conversando alegremente havia
alguns minutos, embora o som do bar atrapalhasse o entendimento de algumas
palavras. Era só sorrisos e pediu meu número, já que meu smartphone repousava sossegado
sobre o balcão.
- Não o aparelho em si, aliás, o sistema todo eu considero
das melhores invenções, afinal, possibilitou a invenção da internet e suas
maravilhas. Mas é que eu não sou bom de improviso e nunca se sabe o que se dirá
ao telefone. Eu nem mesmo sei o que se deve dizer ao atender. Alô? Pronto? Pois
não?
Ela sorria docemente, talvez tentando disfarçar o estranhamento.
- Cancelar serviços ou pedir informações me é uma tortura
só. Eu fico passando e repassando pela cabeça tudo o que preciso falar,
tentando prever as respostas do atendente para ensaiar cada passo. E quando
algo sai do roteiro, eu travo. Desligo. Odeio telefone.
- É, parece que você não gosta mesmo.
Disse isso e tomou um gole da sua Coca com rum, deixando uma
gota escorrer pela boca, aparando-a com o a ponta dos dedos, quando já no
queixo.
- Mas, eu gosto de escrever. E gosto de conversar pessoalmente.
Por mais contraditório que isso pareça.
Ela sorvia mais um gole de sua bebida enquanto dizia:
- Ah, você é uma pessoa visual, precisa ver a reação da pessoa
com quem fala para continuar a conversa de forma mais fluente. Eu até te
entendo.
Sorri. Era a primeira vez que diziam isso sobre mim e eu
estava pronto para concordar.
Pagamos a conta e fui com ela para sua casa, no carro dela,
porque eu odeio dirigir.
03 de março de 2017
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