segunda-feira, 27 de março de 2017

Exagerado

Acordei.
O dia pousou na minha cabeça
com seus raios de mil sóis
e a empáfia de ter que ser dia.

Todo dia a mesma coisa,
mesmo em dias diferentes.
O reflexo cansado no espelho,
a ausência,
uma só escova,
a toalha pendurada,
o shampoo quase sem uso.
O silêncio da água caindo sobre o corpo,
disfarçando o que há para disfarçar,
um corpo só.

O café amargo.
o sol, lá fora, aguardando,
com seu dia já em alta hora,
o desânimo.

O ar condicionado me lembrando a noite passada.

Trânsito.
Carros.
O caos aqui, ali,
em todo lugar.
Os mesmos colegas,
as mesmas piadas,
o café ralo e frio.
Horas e horas que não passam,
não chegam.
Clientes, casos,
um todo sem importância,
tanto e tanto
e esse vazio de esperar,
de não saber.

Trânsito.
A gravata afrouxada.
O aperto no peito.
Buzinas, luzes,
uma leve chuva,
para fazer tudo parecer pior.

A noite chegando como um furacão,
bagunçando tudo,
tirando tudo do lugar.
O reflexo ainda mais cansado.
A água fria sem causar qualquer espanto.
O jantar frio.
A louça suja na pia,
esquecida.

A cama, cela apertada de condenado à morte.

Adormeço de cansaço,
logo mais acordarei
com o dia pousando na minha cabeça
e essa saudade absurda
que me tira o riso,
a vontade,
a alegria de viver.

Faz dois dias que você partiu,
faltam dois para voltar.
O que será de mim?
O que será de mim?

21 de março de 2017

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