segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Entre o vício e a loucura

E o escrever me chega sempre como esse intermediário entre o vício e a loucura. Entre o querer e não dever. Entre o necessitar e o evitar. Dói. O sono vira passageiro de uma montanha-russa que não sai do lugar até cair de uma só vez na descida sem trilhos ao fim. Acorda-se sem saber o que sonhava. Desperta-se para o mundo que se passou pelo inconsciente, como se fosse uma obrigação saber viver a vida que não se vive. Dói. O verão congela os dedos nulos. O inverno ferve os neurônios ativados por criptonita. Dói. Luta entre necessidades opostas. De um lado o escrever, vício ou loucura, de outro o sono, necessidade do corpo. O dia ameaça com seus raios de sol apontando no horizonte. Os compromissos comprimem a cabeça, o peito, os pulmões se enrijecem. É preciso deixar fluir. E quando se prende, algo morre em mim. Alguém de mim se suicida, prendendo a respiração, até que o ar me falte e sem notar acordo já com o dia a pino. O alarme gritando insanamente as palavras que me coibi de colocar no papel durante a madrugada. Dói. Os passos duros me lembram o vago do que pensava. Os olhos nulos me apontam para as quinas dos móveis no caminho do banheiro. Dói. O banho derrete a alma, me estapeia a calma. Eu choro. Eu me perdi. Eu fui incapaz. Eu me deixei morrer. Dói.

E todo dia o escrever me chega manso, como um certo intermediário entre o vício e a loucura, e a única resposta é não viver.

05 de janeiro de 2017

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