quinta-feira, 14 de junho de 2018

Eterna

Eu cago na boca de Newton,
eu urino na cabeça de Einsten,
eu jogo amendoins na jaula de Darwin,
e faço bigodes nas fotos de Marie Curie.
Eu desenho pintos na boca de Aristóteles,
eu cuspo na cara de Galilei,
eu atiro ovos no peito de Pasteur
e chamo bombril a barba de Maxwell.

Eu sou a ignorância,
o deus maior,
a força verdadeira e natural
da natureza humana.
Vocês podem tentar me matar,
podem encher escolas,
podem escrever livros,
podem lançar documentários,
produzir palestras,
eu remanesço.

Eu vivo incrustrada debaixo da unha suja
de quem se deixa ser pensado.
Eu sobrevivo incólume na dobradiça peluda ou no peitoral másculo
de uma ou outra feminista, um ou outro machista.
Eu me mantenho austero na mancha branca de alvejante
da camisa vermelha velha e surrada do esquerdista parado no tempo.
Eu resisto bravamente em meio aos coliformes fecais
das notas verdes e encardidas dos dólares encarcerados em cofres.
Eu permaneço saliente nas orelhas amarronzadas
dos livros ditos sagrados dos defensores da tradição de morte.
Eu subsisto.
Eu me conservo.
E o seu absurdo por me saber assim,
só confirma a minha tese:
Eu sou eterna.

05 de junho de 2015

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