Eu sou uma pessoa triste,
sempre fui triste,
até quando me lembro alegre,
vem à mente um motivo para me arrepender do sorriso.
E mesmo sendo triste,
disfarço-me como a um palhaço,
que desenha a lágrima no rosto,
para fingir uma tristeza natural.
Mas a tristeza parece ganhar mais força nos dias recentes.
Sozinho em casa,
imagino o que está por vir.
Embora eu saiba da necessidade da solidão,
as vozes ficam mais altas quando estou só.
Eu busco silencia-las,
mas elas gritam amordaçadas,
como reféns que veem a porta abrindo
e esperneiam tentando serem ouvidos.
Elas gritam.
E no grito silencioso não consigo conter as lágrimas.
E se...
E esse todo "se" toma conta de mim
e me tira o sono
(ou seria a dor?).
E se?
Eu sei que já não é mais como antes.
E sei que sou culpado por isso.
O eu te amo fica perdido em reticências,
em silêncios,
em ecos no quarto vazio.
E se?
O eu te amo fica só, perdido num parêntese constrangedor,
num sem fôlego de prazer,
numa vírgula fora de lugar.
E se?
Eu devo dizer?
Eu devo silenciar?
E se?
Gradualmente, mesmo lutando,
eu vou dia a dia me preparando para o final do se.
Como eu disse, eu sou triste,
a tristeza é meu padrão,
talvez seja o destino.
E se?
Eu tento não pensar.
Eu tento não pensar.
Eu tento.
Eu penso.
O tempo todo.
A cada minuto a mais.
A cada meia hora a mais.
A cada reticência duplicada.
E se?
Eu sei que tudo foi culpa minha
e mesmo admitindo,
eu não consigo aceitar por inteiro.
E não consigo entender o motivo de não aceitar
se o motivo eu sei quem fui.
E se?
Hoje eu me sinto como não deveria ter feito sentir.
Hoje eu me pergunto o que não deveria ter feito perguntar.
Hoje eu me arrependo do que não deveria ter feito arrepender.
E hoje eu sei o que não sabia.
Hoje eu sei.
Ficam ressoando na minha culpa
os versos de sucesso que dizem
que ela não precisa mais de mim.
E sinto,
e sei,
que fui,
e serei,
o último a saber.
04 de janeiro de 2024
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