segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

E disse o Senhor

Fui um servo do Senhor por toda uma vida,
ali, controlado, ovelha do rebanho
como foram meus pais, meus irmãos,
meus amigos e inimigos.
De joelhos doridos eu buscava a redenção
em palavras cerimonais,
como diziam-me que deveria ser dito,
mesmo que os que me diziam não seguissem as regras ditadas.

Espiei meus pecados,
mesmo que não os tenha tido.
Julguei-me culpado de crimes que nunca cometi,
pedi perdão por atos que não eram meus,
porque eu acreditava no que diziam,
eu acreditava.

Fiz de minhas dúvidas um ato de desonra,
de minhas perguntas uma vergonha sem fim,
de minha própria consciência
a sentença que me levaria a morte.

Chorei.
Lutei contra minha própria vontade.
Fui refém da minha própria inquietude.
Deixei-me ser por Ele.
Chorei.

E no auge da minha inconsciência desoladora,
do meu desespero em frenêsi,
Deus abriu as nuvens por entre raios
e o Sol fez-se mais forte que mil sóis
e Sua voz rouca fez-se verdade em meus dias passados,
na minha vida pro fim,
e disse-me Ele, entre soluços:
"Eu não existo".

Assim é que deixei de acreditar em Deus,
pois que Ele quis que eu não acreditasse,
simplesmente por não existir.

27 de novembro de 2016

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